(um dia destes ainda faço um apelo como o chefe da Wikipedia, a ver se me pagam estes trabalhinhos)
"Arma de destruição maciça contra a confiança"
Os comentadores dos jornais alemães vêem, antes de mais, danos na política internacional americana devido à publicação de milhares de documentos diplomáticos. Mas também wikileaks é criticado: os motivos para as revelações são pouco transparentes. Além disso, destrói-se confiança.
"Süddeutschen Zeitung": "Após a publicação dos documentos roubados - despachos, análises, instruções e comentários - levanta-se a questão de quanto tempo ainda os USA poderão utilizar os seus serviços diplomáticos. Os despojos provenientes do roubo de dados divulgado pela organização internética wikileaks destrói o tecido que permite a comunicação entre Estados: a confiança. Sem confiança não há informação, não há dar e receber. Sem informação também não há conhecimento, capacidade de julgar e tomar as decisões correctas. Wikileaks mostrou ser a arma de destruição maciça do último resto de confiança que havia."
"Estas revelações têm pouco de sensacional", opina o jornal "Mitteldeutsche Zeitung": "Tanto mais que é tarefa básica de cada serviço diplomático fornecer ao seu governo informações pertinentes e claras sobre os países onde se encontram. Contudo, todos os envolvidos foram postos a descoberto. E isso, mal-grado todas as afirmações em sentido contrário, vai ter consequências sobre as relações futuras. Os EUA perderam a face, porque quebraram o primeiro mandamento do trabalho diplomático: discrição. Recuperar esta confiança vai ser um trabalho árduo. Por este motivo, e ao contrário do que aconteceu previamente com as revelações do wikileaks sobre crimes de guerra ou tortura, estas revelações não servem a ninguém."
"Acender o rastilho"
"Não são os conteúdos que constituem uma vergonha gigantesca para a diplomacia americana", vinca o jornal "Neue Westfälische", "mas o facto de ter sido possível publicá-los. Quanta confiança pueril é preciso ter para acreditar que respeito pelas regras, comportamento correcto e técnicas de criptografia serão suficientes para manter secretos dados transmitidos via internet? É preciso acreditar que o State Department é tão ingénuo? É preciso, sim, e é justamente aí que reside o escândalo."
O "Landeszeitung" de Lüneburg diz algo semelhante: "Para a mentalidade ocidental, o que se viu dos bastidores atrás da fachada da diplomacia americana é praticamente inócuo. O que é embaraçoso é o modo como nos EUA se trabalha com esses dados. Se centenas de milhares de funcionários têm acesso a esses dados em redes internas, o que nos surpreende é que não haja mais fugas. No entanto, perdemos a vontade de rir sobre estas revelações da wikileaks no momento em que se publicam afirmações de diplomatas americanos, segundo as quais alguns governantes árabes não se opõem a uma intervenção militar dos EUA para destruição do programa atómico iraniano. É uma negligência que acende o rastilho ligado ao barril de pólvora que é o Médio Oriente."
"A confiança é destruída"
O "Die Welt" critica: "O que wikileaks agora destruiu foi a liberdade das conversações diplomáticas confidenciais. Pois o que é válido para pessoas privadas, é também válido para a comunicação entre Estados: a abertura nas relações bilaterais só é possível se se tiver a certeza que o que foi dito não vai ser lido amanhã em todo o mundo. E outra coisa devia também fazer-nos pensar: até agora, as fugas do wikileaks referem-se quase só a estados democráticos, que já têm um nível relativamente alto de transparência. Até agora, o wikileaks ainda não proporcionou qualquer revelação sobre o que se passa no interior dos verdadeiros buracos negros deste planeta - ditaduras como a Coreia do Norte ou o Irão. Contudo, são estes inimigos da liberdade quem vai estudar com mais cuidado os 250.000 despachos americanos, e quem deles maior proveito vai tirar.
Também o "Weser-Kurier" tem dificuldade em ver o interesse destas revelações: "As motivações de Julian Assange e dos seus colegas não têm a transparência pela qual eles dizem lutar. É evidente que eles utilizam os seus impressionantes talentos para fragilizar os EUA. Não é que tenhamos de ter compaixão para com uma superpotência que se torna frágil por sua própria incompetência. Mas pode-se perguntar a quem serve um governo americano assim exposto e fragilizado - e se, no fim, isso não nos atinge também."
"Pouco original"
"Porquê tanta excitação?", pergunta o "Frankfurter Allgemeine Zeitung" em relação à política alemã, e continua: "O que wikileaks tirou de arquivos americanos para pôr na internet é em Berlim, no que diz respeito à política deste país, o segredo da abelha. A descrição de políticos alemães nesses alegados relatórios da Embaixada é pouco original - o que contribui para provar a sua autenticidade. "Mãezinha" avessa ao risco, Westerwelle sem dotes para os negócios estrangeiros: este tipo de diagnóstico, até com outros complementos, já foi ouvido da boca de pessoas com altos cargos. A diplomacia americana não é a única a escrever assim sobre dirigentes alemães - é também nestes termos que os dirigentes alemães pensam e falam uns dos outros."
"É maravilhoso podermos ler estes dossiers", entusiasma-se o "Frankfurter Rundschau". "Mostram-nos como até na diplomacia as coisas se passam de forma humana - demasiado humana. Este homem da SPD, por exemplo, que está sentado à mesa de negociações da coligação e passa a sua acta directamente à Embaixada dos EUA - tem algo enternecedor. Mas não quero ouvir dele que o wikileaks é um bando de ladrões. Se o wikileaks continua a fazer coisas destas, vai tornar mais difícil não apenas governar, mas também ser governado. Nós, os cidadãos, vamos poder dar cada vez menos a desculpa de não termos sabido. Vamos saber com todos os detalhes, e vamos ter de nos envolver muito mais naquilo que tem de ser feito. A vida vai-se tornar mais desconfortável. Vamos ter de nos empenhar com mais frequência. De novo vale o lema: ousar mais Democracia!"
1 comentário:
Helena, bons post. Acordo quase total. Obrigado por me informar. Devido ao trabalho não tenho tempo para ler jornais e assim faço um resumo.
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