13 novembro 2010

Genscher, de novo

Lembram-se de quando nos jogos olímpicos de Munique um grupo de terroristas palestinianos raptou nove membros da delegação israelita? Hans-Dietrich Genscher era na altura o ministro do interior, e propôs aos terroristas uma troca: ele próprio contra os reféns israelitas.

Uns anos mais tarde, em 1977, quando o avião Landshut foi capturado por terroristas, o chanceler Helmut Schmidt combinou com a sua mulher que não haveria qualquer cedência no caso de um deles ser raptado.

Não sei se se pode pedir a um político que esteja disposto a arriscar a própria vida para servir o seu país. Mas gosto muito destes exemplos.

4 comentários:

io disse...

Não sabia disto. Sabia, no entanto, que é por saber que existem no mundo pessoas extraordinárias, políticos extraordinários que ainda vale a pena acreditar.

Helena Araújo disse...

Eu também não sabia. Só há dois dias (Genscher) e alguns meses (Schmidt) soube.
Mas acredito, como tu, que com exemplos destes entre os políticos seja mais difícil um povo achar que "eles são todos iguais" e "vão para lá para se servir".
Esta gente é redentora!

pedro panarra disse...

Boa noite Helena,
Penso que não se pode pedir isto a nenhum político. Helmut Schmidt é um homem extraordinário e foi um grande estadista, em tempos difíceis. Vilipendiado por boa parte da esquerda alemã que agora lhe canta louvores, mas que na época contribuiu para a queda do governo Schmidt. Ambos estavam a defender a democracia, pois era esse o alvo do terrorismo da RAF. A cedência representaria uma vitória para o terror. Não se devia ceder, mesmo que isso representasse a morte de alguém; a sua propria ou do ente mais querido. Estavam certos e ainda bem que o fizeram, mas não é assim que agora se pensa, no imenso “perdoa-me” em que a política se vai transformando.
Porém, há uma coisa que devemos pedir a um político: que tenha a coragem de tomar as decisões necessárias para adaptar a realidade do seu país ao tempo que nos cabe em sorte. Ainda que isso implique o risco de perder as eleições seguintes. Parece-me o mínimo que podemos pedir a um estadista. E neste momento permita-se-me recorrer a um outro exemplo da política alemã para fazer uma comparação com Portugal que tem assombrado este blogue: Gerhard Schröeder. Em Março de 2003 ele empreendeu a maios corajosa e criticada reforma dos últimos 20 anos: Agenda 2010. Reforma que permitiu à Alemanha sair da crise e do impasse em que se encontrava desde 1995-96. Schröeder arriscou, provocou uma cisão no seu partido, foi odiado e acabou por perder as eleiçóes, por pequena margem, é certo. A carreira dele acabou, mas a Alemanha ganhou com a viragem que ele empreendeu. Não foi por nenhum consenso, nem por força de manifestações populares que a Alemanha saiu da crise. Nem é por viver à conta de ninguém que está bem. É por ser capaz de gerar riqueza, uma coisa de que parte da esquerda europeia se esquece e que odeia. A riqueza não cai do céu, nem há uma máquina onde possamos carregar num botão para a produzir. O mundo não é um multibanco. Foi isto que Portugal não teve, pois os bandalhos que nos têm governado fazem o que é mais fácil, o e o que o povo quer no imediato. Claro que um povo infantilizado, como é o português, favorece soluções de facilidade. Mas é também por isso que estamos na situação em que estamos. A Alemanha tem tido bom(s)-governo(s), enquanto Portugal não. Os povo têm nisso grande responsabilidade, claro está
Entrámos numa moeda cuja natureza não percebemos e fizemos quase tudo ao contrário.
Tudo isto a propósito de um assunto que tem sido debatido neste blogue e que se articula com Genscher e Schmidt como exemplos do que deve ser.
Pedro

Helena Araújo disse...

Pedro,
gostei do "perdoa-me". Hehehe.
Concordo inteiramente com essa exigência de fazer o que é preciso, independentemente dos previsíveis castigos eleitorais. Infelizmente, também aqui começa a haver sinais de navegação à vista das próximas eleições.
Quanto às reformas: aqui está algo de muito difícil comparação com o que se passa em Portugal. Os políticos portugueses não podem seguir o exemplo da Agenda 2010, porque o país ainda está no outro extremo da evolução:
- Assistência Social: os pobres alemães, os que vivem "à custa do Estado", têm um nível de vida comparável à classe média-baixa portuguesa. A Alemanha pode fazer algumas reformas para cortar estes apoios, mas nunca passará a fronteira de um mínimo muito aceitável de dignidade. Em Portugal, ainda há muito caminho para fazer: o limiar de pobreza ainda está muito baixo, e há demasiadas pessoas a viver abaixo dele. Um país com uma percentagem tão alta da sua população a viver em condições miseráveis não pode ir longe. Desde já porque lhe falta procura interna. Mas também autoconfiança, e aproveitamento máximo das potencialidades de cada indivíduo.
- Estrutura empresarial: uma longa história de diferenças, que não são propriamente culpa dos "bandalhos que nos têm governado nos últimos anos".
- "Moralidade": talvez eu esteja mal informada, mas tenho a sensação que os alemães, de um modo geral, são mais cumpridores e têm menos "esquemas". Por outro lado, a sociedade controla mais, e facilmente denuncia situações irregulares. Em Portugal, toda a gente sabe de irregularidades, mas a figura do denunciante é mais odiada que a do desonesto.
Um exemplo do meu tempo de universidade: filhos de industriais cujos pais conseguiam apresentar sempre declarações de rendimento miseráveis, que recebiam uma bolsa de estudo por serem pobrezinhos e iam para a faculdade de carro. Toda a gente sabia, e toda a gente fazia de conta...