22 outubro 2010

há dez anos (uma mensagem enviada no ano 2000)

Ontem foi o meu primeiro dia de aulas.
Curso de inglês gratuito no City College, sala cheia de russos e asiáticos, uns a ler o jornal da terra deles e outros a dormitar, o professor cheio de genuíno entusiasmo forçado... algo me diz que não vou aprender muito aqui. Lemos um artigo de um jornal de San Francisco noticiando que vão proibir as bebidas alcoólicas em 20 parques da cidade, aumentando assim para mais do dobro o número actual de parques públicos onde o consumo de álcool é proibido. Acrescentava que essa medida vai ser tomada respondendo a pedidos de moradores e comerciantes das zonas afectadas. Pelos vistos, o problema é que as pessoas se embebedam, depois partem as garrafas, urinam em público e incomodam toda a gente.

Lemos o texto, e começou a discussão.
O professor perguntou quem estava de acordo com a medida e muitos alunos levantaram a mão. Porque é preciso proteger as crianças desses espectáculos indecorosos, e assim e assado, e eu a pensar "não me digam que agora vou ter de beber a minha cerveja por uma garrafa de ginger-ale". Depois o professor perguntou quem era contra esta medida, eu levantei a mão e no momento seguinte dei-me conta que tinha sido a única. "Aha, um voto contra, então levante-se, venha aqui para a frente, e diga lá porque é contra esta medida." (Mas porque é que estas coisas só me acontecem a mim, e sempre justamente no dia em que não lavei o cabelo e nas calças brancas há uma nódoa de geleia que o Matthias lá deixou ao pequeno-almoço e além disso estão largas demais?)
Lá me levantei e comecei a explicar que, primeiro, não acho que seja necessário proteger as crianças do espectáculo degradante que dou quando estou a beber uma cervejinha enquanto vou grelhando os bifes da família num parque público e que, segundo, o problema dos alcoólatras não se resolve mandando-os ir embebedar-se para locais onde incomodem menos, segundo o princípio "vai morrer longe" e que, terceiro... ...ia acrescentar que uma sociedade civilizada deveria ser mais que a soma aritmética dos seus lobbies, mas preferi ficar calada.

E eis como eu, na primeira hora do primeiro dia de aulas, me autopromovi a porta-voz dos bêbedos de San Francisco.

Acho que vou ali para o parque em frente à nossa casa beber uma caipirinha para esquecer...

Beijos, hips, perdão,
Helena

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