Afinal aquela história de mau tempo era alarme falso.
Nunca mais acredito no boletim meteorológico: por causa deles não levámos protector solar e agora estamos com um belo escaldão (nas partes do corpo que não andavam cobertas por camisolas, cachecóis, jeans e galochas).
Começo a desconfiar que todas as ilhas do Báltico são iguais: as mesmas avenidas perpendiculares à praia, ladeadas por pequenos palacetes dos fins do séc. XIX, com bonitas varandas de madeira e jardins de inverno virados para a rua. Os mesmos pontões para passear mar adentro. As mesmas florestas no chão de areia. A mesma beleza, em suma.
Muito eu gostava de saber como é que eles conseguiram preservar a paisagem costeira, e os portugueses não.
É verdade que volta e meia se encontra um prédio dos tempos da RDA, com a fachada mais ou menos reciclada para não chocar tanto. E em Rügen há uma colónia de férias gigantesca, feita pelos nazis (Prora - em parte também aqui, em inglês). Mas, de um modo geral, quando se passeia por aquela costa o que se vê são os palacetes centenários, as árvores e o mar. Como é que conseguem?
Neste princípio de Outono demos com um povo de colectores, que se espalhava pelos pinhais à procura de cogumelos selvagens. É época deles, e que fáceis de encontrar! Mostraram-me um, lindo e com um aroma delicioso, mas horrivelmente amargo. Fiai-vos nas aparências...
Povo de colectores também na praia. Procurando mexilhões? Ameijoas? Nada disso. Âmbar! Pedras de âmbar pousadas na areia. Enchemos os bolsos de pedrinhas cor de mel que brilhavam translúcidas contra o sol.
Em suma: um fim-de-semana cheio de pequenas aventuras e sossego.
Na sexta-feira, depois do jantar, fomos até à praia, atravessando a floresta. Um grupo de vinte pessoas, com uma única lanterna de bolso. Para lá correu bem: o ruído do mar indicava-nos o caminho. Para cá, perdemo-nos completamente. Quando nos parecia ter encontrado o parque de campismo junto à nossa residencial, disseram-nos que afinal ainda tínhamos de andar 3 km. Bem: há lugares piores para uma pessoa se perder na noite.
No sábado fomos para a praia, alguns levaram até fato de banho, e começou a chover.
Um dos amigos com quem estávamos tinha um toldo impermeável enorme, debaixo do qual nos abrigamos todos. Enfim, quase todos. Alguns miúdos optaram por se meter na água - molhar por molhar...
É impressionante a quantidade de coisas que os pais alemães carregam nas suas mochilas: debaixo do toldo estendeu-se uma manta de piquenique, com bolachas e chocolates, sanduíches de pão integral e bolo de limão caseiro. E bebidas, claro. Até chá quente havia.
Eu tinha ido para a praia de mãos a abanar - deve ser por estas e por outras que se queixam dos malditos estrangeiros que não se integram na sociedade alemã...
No domingo atrevi-me a entrar na água. Grande surpresa: era mais quente que o Atlântico. De modo que saboreei com vagar o último banho do ano. A seguir ao almoço voltámos à praia, para o pós-último banho do ano.
E depois fomos procurar cogumelos na floresta, e estendemo-nos ao sol numa clareira, a carregar as baterias para o inverno que se aproxima.
4 comentários:
É o que se chama um fim-de-semana cheio de peripécias :-) Para meu gosto, bem mais interessantes do que os passados de papo pr'o ar, embora às vezes seja mesmo desses que se precisa.
Gi,
gosto dos dois. Mas os meus costumam ser bem mais agitados. Não sei que me servem no café, ao pequeno-almoço...
Como é que conseguem? Não sei, mas é extraordinário. Apenas a falta de um clima tipo algarvio não há-de justificar que não tenham sido atingidos aí por uma pontinha de progresso.
Uma vez a Rita deu uma boa explicação: os ricos não gostam de viver em andares. Talvez seja uma pista.
É que a envolvente dos lagos de Berlim também é assim. Quase só palacetes e floresta.
Enviar um comentário