14 setembro 2010

pequena revisão de matéria dada sobre Estado de Direito

Lembram-se daquela história do casaco que desapareceu numa repartição pública depois de ter sido encontrado e guardado pelos funcionários?
A Polícia já tinha dado o caso por encerrado, mas a magistrada do Ministério Público reabriu-o com a pergunta: "o casaco já foi pago à queixosa?", e por isso chamaram-me para ir fazer novo depoimento.
Estava marcado para as oito horas da manhã, e começou sem atraso. O polícia esclareceu-me sobre os meus direitos (que não sou obrigada a dizer nada que me incrimine, e coisas assim) e começou a escrever o meu relato. Quando eu cheguei ao ponto do "o que me incomoda é que tenha sido roubado numa repartição pública, por algum dos funcionários" ele meteu-me os travões a fundo: "Minha senhora, tem de ter cuidado com essas afirmações que faz. Uma coisa é presumir, outra é saber. Se afirma como certeza algo que não passa de uma suposição, pode arranjar problemas graves. O chefe daquele serviço público pode abrir-lhe um processo".

No fundo, é elementar. Mas a gente esquece-se muitas vezes.

4 comentários:

jj.amarante disse...

Nem sempre é assim tão elementar porque enquanto precisamos nalgumas circunstâncias de descrever o que nos rodeia da forma mais exacta possível, doutras vezes isso é muito limitativo e teríamos grande dificuldade em transformar a realidade se não nos afastássemos dela. Nalguns casos a fronteira é menos clara do que neste. Já agora se tiver oportunidade diga nesse departamento que poderiam considerar uma diversificação de actividade iniciando uma sequência de cursos de formação para bloggers, jornalistas e cidadãos em geral, sobre as possibilidades e vantagens de exactidão da comunicação.

Ant.º das Neves Castanho disse...

Em particular os jornalistas portugueses esquecem muito (o que porventura nunca souberam...).


E é um facto que a vida em Sociedade, no Mundo actual, exige um muito maior conhecimento das regras básicas de convivência social, num nível acima ao da mera boa educação e cortesia, e que isso só lá vai com uma formação adeuqada (teórica e prática) ao nível do Ensino Secundário. A tal Disciplina de Educação Cívica, que me parece teres referido existir aí na Alemanha, mas que não faço a menor ideia sobre se existe ou não no Ensino português. E se ela faz tanta falta...

Helena Araújo disse...

jj.amarante,
o departamento só entra em campo depois de roubarem casacos de criança...
;-)
A falta que fazem esses cursos de formação!

A.Castanho,
a disciplina chama-se Ética. Que, em Berlim, é dada em vez das aulas de Religião (diferentes, conforme a religião do aluno). Houve no ano passado um referendo, e foi complicado: de um lado, o que achavam que as aulas de Religião deviam ser dadas pela escola pública (o que, entre outras vantagens, permitia que a "escola do Corão" fosse integrada no sistema de ensino oficial, em vez de sabe-se lá o quê sabe-se lá por quem) e os que achavam que devia haver, em vez da escolha Ética ou Religião, uma Ética para todos os alunos, para debater valores fundamentais e básicos da sociedade de todos. Inclino-me mais para esta segunda hipótese, e gosto do que o meu filho conta: analisam os problemas que existem na turma, discutem os valores subjacentes aos assuntos da actualidade (por exemplo, o escândalo do Sarrazin), etc.

Ant.º das Neves Castanho disse...

Sim, parece-me que essa Ética constitui a evolução natural e lógica daquilo que no meu tempo era a Disciplina de Religião e Moral...


Será que em Portugal existe uma tal Disciplina?