Na nossa família havia fadas, e eram todas da minha mãe. Também tinha moiras encantadas em certos lugares especiais - junto ao chorão do rio, claro, ou na cozinha velha da casa dos avós, ou sob algumas pedras mais bonitas.
As crianças não eram recebidas com votos de uma vida feliz, e todas essas palavras que procuramos para desejar o melhor possível. Em vez disso, eram fadadas. Invocavam-se as fadas para que as tocassem e lhes concedessem os melhores dons.
As fadas faziam parte da nossa realidade concreta. De tal modo reais, que cheguei a recorrer a elas para tirar uma nódoa do vestido, antes que a minha mãe visse e se zangasse. Procurei-as no quintal, e encontrei-as dentro dos lírios roxos. Mostrei-lhes a nódoa e pedi que a apagassem, mas permaneceram silenciosas. Em desespero de causa, esfreguei um dos lírios no tecido branco, certa de que me ajudariam. Bem vi como se esforçaram, mas não conseguiram tirar a nódoa, só a alteraram: ganhou mais cor. Ou talvez um sinal secreto. O que é certo é que, daquela vez, a minha mãe não se zangou.
Sorrio agora ao pensar nisso. Agora que já não há fadas nem moiras encantadas, excepto - talvez - no meu sangue.