(podia ter escolhido outro título, Rita, mas achei que ias gostar muito deste)
No Mar Salgado há uma ligação para um post no Portugal dos Pequeninos, que eu segui - para acabar incrédula a ler os comentários sobre o ataque do exército de Israel aos navios que queriam furar o boicote imposto por aquele país. Claro que não é caso único, mas é um bom exemplo do que está a correr mal nos debates sobre estes temas.
Na caixa de comentários do Portugal dos Pequeninos fica patente que o grande mal é as pessoas não estarem informadas. No fundo, e como alguns até o reconhecem, pura e simplesmente não sabem do que é que estão a falar. Não sabem quem ia lá, nem o que levavam nem ao que iam. Tomaram partido pró e contra, zangaram-se uns com os outros, insultaram-se, aproveitaram para bater nos judeus (uns) e nos árabes (outros), mas factos palpáveis que é bom, nada.
Em contrapartida, no dia em que o ataque ocorreu, o noticiário alemão entrevistou em directo alemães que vinham num dos barcos, e recolheu depoimentos de algumas das organizações alemãs que estavam por trás dessa iniciativa, para além de passar a Angela Merkel a questionar a proporcionalidade da acção. No dia seguinte, tinham uma das testemunhas no estúdio - a contar, entre outras coisas, que o exército israelita recolheu todo o material filmado e fotografado por quem vinha no navio, de modo que o que chegou à comunicação social é apenas a versão israelita dos factos; e a explicar que se tinham recusado a ir para o porto indicado por Israel porque o objectivo da missão não era apenas entregar as mercadorias mas protestar abertamente contra o boicote imposto por Israel. Etc.
Seria muito saudável para o bom entendimento entre os portugueses, e para o amadurecimento democrático, de um modo geral, que os noticiários passassem mais informação e menos espectáculo e suspense. Eu sei que é mais fácil e agradável para quase todos se a TV passar imagens da nova namorada do Ronaldo, ou assim, em vez de traduzir depoimentos de testemunhas e passá-los em tempo útil. Mas estamos a falar de informação - e o modo como em Portugal se discutiu o caso é um triste exemplo das consequências da má informação.
4 comentários:
O Ronaldo tem uma namorada nova? Onde, Onde?
PS: Estou totalmente de acordo contigo. Desde que ouço sempre a RFI ando com uma inveja dos franceses...(dos alemaes ainda nao, mas por vezes (!!!) quase(!!!) podia).
PPS: Por outro lado, o mundo dos telejornais é um mundo de um sistea antigo de informaçao, grande parte do paradigma actual tem a ver com o facto de as pessoas procurarem e encontrarem a informaçao que querem. Efectivamente, parte do problema desses comentadores seria falta de informaçao, mas eles assumiam-no e continuavam a ter opinioes daquelas mesmo fundamentais e agressivas? Nao sei se com um grupo de pessoas que gostam de ter opinioes sobre coisas de que nao percebem nada se pode imputar tudo ao jornalismo.
E estarão todos mal informados? Também há os que estão bem informados mas filtram o que não se encaixa na ideologia ou narrativa do seu agrado, desprezando os factos que contradizem as suas opiniões ou minimizando a sua importância. Vejo isto, às vezes, nos jornais online. A informação está toda lá e quando vais ler os comentários é como se não tivessem lido o que está em cima, mas sabemos que leram porque se referem explicitamente ao conteúdo da notícia.
O mais possível de acordo contigo. Fosse a informação em Portugal, verdadeira informação, e seguramente poupava-se muita discussão estéril e sem sentido. Ou talvez não, porque conversa de taxista sempre haverá, ainda que travestida de comentador político. Todavia, mais fácil seria separar o trigo do joio. Acho absolutamente abominável, esta tendência nacional de não se poder criticar Israel sem que se apanhe, no mínimo, com o rótulo de anti-semita e no máximo sabe Deus o quê.
O problema de ter os comentários moderados é que os comentários parecem uma conversa de surdos.
Desculpem!
Rita,
é verdade que não posso imputar tudo ao jornalismo. Mas um bom jornalismo, informação clara e séria, dava uma grande ajuda.
E também é verdade, tal como diz a Maria N., que as pessoas filtram a informação. Como é que dizia o outro? "Servem-se".
Quanto a criticar Israel, io: na Alemanha é um caso de Estado. Cuidado com isso. Para mim, esta exigência de pesar muito bem as palavras, cuidar de saber exactamente o que quero dizer quando teço críticas a Israel, é uma experiência muito positiva. De um modo geral, se eu sei o que estou a dizer e como o digo, é muito difícil que me venham com o chavão do anti-semitismo. Não pega.
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