04 junho 2010

a culpa é dos jornalistas...

(podia ter escolhido outro título, Rita, mas achei que ias gostar muito deste)

No Mar Salgado há uma ligação para um post no Portugal dos Pequeninos, que eu segui - para acabar incrédula a ler os comentários sobre o ataque do exército de Israel aos navios que queriam furar o boicote imposto por aquele país. Claro que não é caso único, mas é um bom exemplo do que está a correr mal nos debates sobre estes temas.

Na caixa de comentários do Portugal dos Pequeninos fica patente que o grande mal é as pessoas não estarem informadas. No fundo, e como alguns até o reconhecem, pura e simplesmente não sabem do que é que estão a falar. Não sabem quem ia lá, nem o que levavam nem ao que iam. Tomaram partido pró e contra, zangaram-se uns com os outros, insultaram-se, aproveitaram para bater nos judeus (uns) e nos árabes (outros), mas factos palpáveis que é bom, nada.

Em contrapartida, no dia em que o ataque ocorreu, o noticiário alemão entrevistou em directo alemães que vinham num dos barcos, e recolheu depoimentos de algumas das organizações alemãs que estavam por trás dessa iniciativa, para além de passar a Angela Merkel a questionar a proporcionalidade da acção. No dia seguinte, tinham uma das testemunhas no estúdio - a contar, entre outras coisas, que o exército israelita recolheu todo o material filmado e fotografado por quem vinha no navio, de modo que o que chegou à comunicação social é apenas a versão israelita dos factos; e a explicar que se tinham recusado a ir para o porto indicado por Israel porque o objectivo da missão não era apenas entregar as mercadorias mas protestar abertamente contra o boicote imposto por Israel. Etc.

Seria muito saudável para o bom entendimento entre os portugueses, e para o amadurecimento democrático, de um modo geral, que os noticiários passassem mais informação e menos espectáculo e suspense. Eu sei que é mais fácil e agradável para quase todos se a TV passar imagens da nova namorada do Ronaldo, ou assim, em vez de traduzir depoimentos de testemunhas e passá-los em tempo útil. Mas estamos a falar de informação - e o modo como em Portugal se discutiu o caso é um triste exemplo das consequências da má informação.

4 comentários:

Rita Maria disse...

O Ronaldo tem uma namorada nova? Onde, Onde?

PS: Estou totalmente de acordo contigo. Desde que ouço sempre a RFI ando com uma inveja dos franceses...(dos alemaes ainda nao, mas por vezes (!!!) quase(!!!) podia).
PPS: Por outro lado, o mundo dos telejornais é um mundo de um sistea antigo de informaçao, grande parte do paradigma actual tem a ver com o facto de as pessoas procurarem e encontrarem a informaçao que querem. Efectivamente, parte do problema desses comentadores seria falta de informaçao, mas eles assumiam-no e continuavam a ter opinioes daquelas mesmo fundamentais e agressivas? Nao sei se com um grupo de pessoas que gostam de ter opinioes sobre coisas de que nao percebem nada se pode imputar tudo ao jornalismo.

maria n. disse...

E estarão todos mal informados? Também há os que estão bem informados mas filtram o que não se encaixa na ideologia ou narrativa do seu agrado, desprezando os factos que contradizem as suas opiniões ou minimizando a sua importância. Vejo isto, às vezes, nos jornais online. A informação está toda lá e quando vais ler os comentários é como se não tivessem lido o que está em cima, mas sabemos que leram porque se referem explicitamente ao conteúdo da notícia.

io disse...

O mais possível de acordo contigo. Fosse a informação em Portugal, verdadeira informação, e seguramente poupava-se muita discussão estéril e sem sentido. Ou talvez não, porque conversa de taxista sempre haverá, ainda que travestida de comentador político. Todavia, mais fácil seria separar o trigo do joio. Acho absolutamente abominável, esta tendência nacional de não se poder criticar Israel sem que se apanhe, no mínimo, com o rótulo de anti-semita e no máximo sabe Deus o quê.

Helena Araújo disse...

O problema de ter os comentários moderados é que os comentários parecem uma conversa de surdos.
Desculpem!

Rita,
é verdade que não posso imputar tudo ao jornalismo. Mas um bom jornalismo, informação clara e séria, dava uma grande ajuda.

E também é verdade, tal como diz a Maria N., que as pessoas filtram a informação. Como é que dizia o outro? "Servem-se".

Quanto a criticar Israel, io: na Alemanha é um caso de Estado. Cuidado com isso. Para mim, esta exigência de pesar muito bem as palavras, cuidar de saber exactamente o que quero dizer quando teço críticas a Israel, é uma experiência muito positiva. De um modo geral, se eu sei o que estou a dizer e como o digo, é muito difícil que me venham com o chavão do anti-semitismo. Não pega.