22 fevereiro 2010

imagem de nós

A televisão alemã tem mostrado imagens trágicas da Madeira.
Se isto não é escrever muito direito por linhas muito tortas: eu, que nunca fui à Madeira, que me irrito com as jogadas do Alberto João Jardim, e que ainda na semana passada estaria capaz de escolher "sim" num referendo sobre a independência daquele arquipélago, ao ver aquelas imagens sinto que é a "nós" que isto está a acontecer.

Alguém pode dizer-me o número da conta bancária de um organismo sério que esteja a ajudar as vítimas?

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Não há mês (ou talvez semana?) que não passem na televisão alemã notícias de uma catástrofe natural. Contudo, as imagens que nos chegam da Madeira têm um outro grau de dramatismo. Nos poucos segundos que a televisão alemã reserva para cada notícia, desta vez vimos estradas a aluir e massas de água a rebentar, para além dos habituais carros a boiar na água e os esforços dos bombeiros para salvar as pessoas. Comparando com o que se mostra de outras tragédias semelhantes, é um fenómeno algo inusitado: parece que há na ilha inúmeros caçadores de imagens - o que é sinal de um povo perfeitamente familiarizado com o espectáculo mediático e tecnologias da informação.
Ao ver o filme feito por alguém que anda de carro pelo meio da paisagem devastada, e chega a entrar num túnel alagado, pergunto-me onde foi parar o nosso instinto de sobrevivência: sentimo-nos tão seguros dentro de um carro e sobre uma estrada asfaltada, que não nos ocorre que a Natureza possa lembrar-se de não respeitar as fronteiras que o nosso urbanismo lhe tenta impor? Que diferença abissal entre o comportamento deste "camera man" e, por exemplo, o dos povos primitivos que pressentiram a tsunami de 2004 e fugiram rapidamente.

Contra mim falo, que não faço a menor ideia de como reagir quando à Natureza lhe dá para perverter a normalidade, e que às vezes confundo a minha câmara fotográfica com um escudo que me protege daquilo que estou a fotografar...

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