Imaginei logo alterações para as canções de Natal portuguesas, por exemplo "olhei para o céu, estava estrelado, vi um trenózinho, por renas puxado", e estaquei na parte do "filho de uma rosa, de um cravo nascido". Como é que isto se há-de mudar para renas e trenós é que não sei, mas também, vá: ainda só agora comecei a inventar.
Contudo, não nos queixemos demasiado destes vestígios da ideologia da RDA, porque também na França, segundo ouvi dizer, não se podem ensinar canções de Natal nas escolas públicas: o Estado laico obriga tudo o que é referência à religião a ficar à porta dos estabelecimentos de ensino.
O problema é quando a religião vai de mão muito dada com a cultura - privar os alunos franceses de uma parte da cultura da sua sociedade, em nome do laicismo, é assim uma espécie de como direi.
Há tempos encontrei num catálogo um presépio que é um autêntico non-plus-ultra do kitsch de Natal. Fiquei tão fascinada que até marquei a página, o que provocou um susto monumental ao Joachim, que pensou que eu ia comprar aquilo. Felizmente tudo acabou em bem: eu expliquei que era só para contar no blogue, e ele riu-se, muito aliviado.
Eis a obra prima:
Repararam bem na "parede" do presépio, onde está escrito Hope?
Perfeito, perfeito. Lindo.
(A quem interessar possa: custa 24,90 €)
E eu acho bem. Acho muito bem que os não-cristãos inventem os seus próprios ritos, símbolos e sentidos. Até se podem apropriar de um certo património cultural já existente - afinal de contas, a Igreja Católica também fez o mesmo, a seu tempo.
O melhor é parar o post por aqui.
Mais uma linha, e temos de começar nova discussão: será que este Natal é igual ao outro Natal? Ou será que o Natal é só para "ter filhos", no caso: o mistério de um Deus que envia o seu filho ao nosso mundo? Devemos dar nomes diferentes à mesma festa? Festa de Natal para os cristãos, e Festa do Pai-Natal para os outros?
Este mundo está a ficar muito complicado...
***
Para os cristãos, deixo aqui mais uma história contada nessa Missa - diz-se que é de Martinho Lutero:
Havia um homem que queria muito ir para o céu, e por isso se desdobrava em boas palavras e acções. Todos os dias, mercê de tão empenhado esforço, subia um pouco mais. Até que, ao fim de muitos anos, subiu o degrau que deixou a sua cabeça à altura do limiar do paraíso. Cheio de curiosidade, pôs-se em bicos de pés e espreitou para dentro. Estava tudo escuro! Passado algum tempo, avistou ao longe uma alma a quem pôde perguntar o que se passava.
"Aqui não está ninguém", foi a resposta. "Foram todos para a terra, para Belém, e levaram a Luz."
De modo que ficamos assim: invente o Comércio todas as renas de presépio e todos os bonecos vestidos de vermelho que quiser, compre e saboreie quem gostar - nada disso corrompe o mistério desta Luz.
Sem comentários:
Enviar um comentário