Pela boca morre o peixe...
Um caso que tem dado aqui que falar é o de Sarrazin (mas que nome haviam de lhe ter arranjado), um ex-"ministro das Finanças" de Berlim, que gosta de dizer as coisas de modo provocador. Nesta cidade tornou-se extremamente impopular por ter, entre outros tristes episódios, feito contas de cabeça sobre a vida dos mais pobres, dizendo como é que se podem alimentar com menos de quatro euros por dia. Para quem tinha 46 outros tachitos, não está mal...
Afastado desse cargo em fins de Abril de 2009, recebeu um lugar no conselho de administração do Bundesbank (o banco central alemão).
Recentemente, deu uma entrevista onde falava dos árabes e muçulmanos como muito bem lhe apeteceu: "Não tenho de reconhecer ninguém que vive do Estado, mas repudia este Estado; que não cuida adequadamente da Educação para os filhos e produz constantemente novas meninas com lenços na cabeça. Em Berlim, isto é válido para 70% da população turca e 90% da população árabe". Além disso, "há ainda o problema de 40% dos nascimentos ocorrerem apenas nas classes sociais mais baixas". E toca de dizer que é preciso fechar as fronteiras a pessoal que não tenha altíssimas qualificações.
O Banco não o pode despedir, mas retirou-lhe poderes.
A discussão alastrou - e bem. Há os que dizem que é uma vergonha, e os que dizem que o tom foi inadequado mas que é importante falarmos sobre os problemas apontados. Os jornais foram averiguar como é mesmo essa história dos 70% e dos 90%, e aproveitaram para informar que, em caso de concorrerem ao mesmo emprego apresentando qualificações semelhantes, o filho do imigrante é preterido em favor do filho de alemães.
Pelo seu lado, os organismos competentes estão a debater se as afirmações de Sarrazin entram já na área de xenofobia e ódio. É que, como muito bem diz o ditado, gato goebbelslizado da água fria tem medo.
E de repente, dias depois, cai-me uma ficha: e como são os alemães no estrangeiro?
Misturam-se com a população? Integram-se? Respeitam os costumes locais?
Muitos deles põem os filhos na escola alemã, não cuidam de respeitar as tradições do país que os recebe (lembram-se do filme "A Beleza do Pecado"? Jugoslavo, meados dos anos 80, sobre uma aldeia de nudistas e os problemas morais que isso colocava aos autóctones) (mas também podia contar a história do meu marido, há vinte anos, a fazer questão de escolher ele próprio a fruta na mercearia, em vez de aceitar o que lhe metiam no saco), transformam à medida dos seus sonhos e do seu conforto os sítios onde se instalam. E nem sempre se coíbem de dizer mal do povo que os acolheu e do país onde ganham - na maior parte dos casos - bom dinheiro.
Nós é que não reparamos logo porque não somos tão diferentes que chegue para reacção alérgica à primeira vista.
E, além disso, há uma certa predisposição para ser mais tolerante com os ricos que com os pobres.
Mas, no fundo, no fundo, não são só os turcos e os árabes: somos todos alemães, é o que é.
E depois vem a Abrunho, que agora mora em Zurique, e conta isto:
Os turcos da Suíça
Os turcos da Suíça são os alemães. Um dia destes hei-de ler mais um daqueles títulos "Há alemães a mais?" e rir-me como a cobra do Pinóquio até ficar sufocada em Schadenfreude. Queixam-se uns de que os outros não se sabem comportar, mal-educados, com a mania que o mundo é deles. Queixam-se os outros de serem tratados com rudeza. Li no jornal, que se apanha grátis na estação, que vai começar um novo jornal para os alemães na diáspora (diáspora a uma hora de distância!!!): para os ajudar a integrar!! Eu vou morrer a rir-me neste país.
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Em suma: somos todos diferentes e todos temos resistências a todos. Não nos ficaria mal olhar para o espelho antes de começar a falar dos outros.
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