17 maio 2009

Grand Prix Eurovision de la Chanson 2009

Alguns apontamentos sérios:

- Um palco sensacional, boas canções, uma edição óptima deste festival - não fora a desumanidade da repressão da manifestação de homossexuais (enfim, pode-se dizer que "não tinha sido autorizada", mas é muitíssimo mais que isso: no mesmo dia, pessoas entrevistadas na rua diziam delicadezas do género "estes depravados deviam ser todos metidos em campos de concentração". Fique registado: em 2009, em Moscovo) e a barbaridade da recolha e envenenamento dos cães vadios. Tudo isto porque se queria dar de Moscovo a melhor imagem possível. Lamento informar que falharam redondamente.

- Constrangedor o modo como tentaram fazer sketches humorísticos, manipulando a realidade para a fazer passar por preconceito. Raramente vi um país a jogar tão ridiculamente à defesa.

- Engraçada, embora inconsequente, a ideia de passarem um pequeno dicionário russo entre as canções. Mas quais terão sido os critérios para a escolha das palavras? Confesso que tive um arrepio ao ver o verbete Sibir = Sibéria. Serão preconceitos, mas esta palavra, tão carregada de associações negativas, pareceu-me muito deslocada naquele ambiente de festa.

- Há semanas disse que Israel ia ganhar. Bem...
Ultimamente ando muito certeira: acerto completamente ao lado do alvo. O melhor é não jogar no totoloto nos próximos anos, vou poupar um dinheirão.
Que se passa na Europa, se já ninguém está disposto a premiar o simbolismo de uma judia e uma cristã palestiniana juntas a cantar "there must be another way"? Será isto sinal de cansaço? Uma maneira de dizer "pois há another way, há - tratem de o encontrar e de seguir por ele adiante, tratem de resolver o problema, que já estamos fartos dos vossos conflitos"?


Alguns apontamentos frívolos:

- "O céu é o limite" - depois desta manifestação excessiva de grandeza, que incluiu até a participação de astronautas directamente do espaço, como serão os festivais futuros? Enquanto observava esta desbunda de exibicionismo, lembrava-me daqueles aniversários infantis em que a primeira criança a fazer anos traz um palhaço para a festa, a segunda já tem um carrossel no jardim, a terceira leva os amiguinhos todos à Euro Disney e os pais da quarta arrependem-se muito de não terem interrompido a pílula uns meses mais cedo...

- Ainda não sei bem para que serve um festival da canção europeu. Para manter a indústria oleada? Para mostrar a riqueza das diferenças musicais no espaço europeu? Sou mais pelo segundo, e por isso dou os meus parabéns a Portugal, à Arménia e à Moldávia (entre outros) que, podendo ter mandado para lá um grupo Abba qualquer, optaram por levar elementos musicais específicos da sua cultura.
(Repararam bem que eu disse que Portugal podia levar um Abba qualquer à Eurovisão, e só não fez porque não quis? hehehe)

- E que me dizem da Dita von Teese? Heinhe?
Aprendi uma palavra nova (aprender até morrer): burlesque.
Vejam só como é a internet: ainda ontem não sabia o que isso é, e hoje já tenho opinião formada...
Parece que o erotismo à maneira dos anos vinte voltou para ficar. Dei uma vistinha de olhos (internética) por bares berlinenses onde se pratica essa arte, mas não me convenceu. A Dita von Teese mete todas aquelas aprendizas-de-Marylin num chinelo cambado. Caramba, aquela mulher é um excelente exercício de estatística: ninguém como ela faz render ao máximo aquilo que não mostra!

- No ano passado, durante a recolha das votações, o Matthias comentou com tristeza: "ninguém gosta de nós..."
Este ano constatou que a canção norueguesa tinha de ser realmente muito boa, porque a Noruega também não exporta muitos emigrantes, nem tem relações particularmente amistosas com os restantes países.

(Gostei do humor do comentador alemão, ao ver o vencedor no palco, assim novinho e despretencioso, a dizer: "atenção, atenção: os pais do pequeno Alexander podem vir buscá-lo ao palco")

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