Não é propriamente segredo: quem, nas grandes cidades alemãs, quiser ouvir gratuitamente música litúrgica interpretada com excelência, deve ir a certos serviços religiosos ou missas.
Na noite de Natal, por exemplo, a igreja da minha paróquia já está à pinha uma hora antes do início da missa do galo.
Este ano, numa das magníficas igrejas medievais de Nuremberga, a missa do Domingo de Páscoa foi acompanhada por partes da oratória "o Messias". Com solistas pagos, um coro cheio de cantores profissionais, e até uma das melhores violinistas do barroco que actualmente trabalham na Alemanha.
Algumas horas depois ouvi pessoas do coro queixarem-se dos detalhes da realização: desde os acólitos em pé, como fazem habitualmente naquele momento da missa, sem repararem que estavam mesmo à frente do solista, impedindo as pessoas de o ver e de ouvir convenientemente a sua dificílima ária, até ao coro final, em que o sacristão começou a arrumar a parafernália no altar para preparar tudo para a missa seguinte, enquanto o coro e a orquestra se desunhavam ainda a dar o seu melhor.
Os cantores estavam indignados. Mas o sacristão argumentou, e cheio de razão, que tinha de deixar tudo pronto para a missa seguinte não começar com atraso...
Sugeri-lhes que, da próxima vez que isto acontecer, pura e simplesmente parem em plena frase musical, para não incomodarem o trabalho do sacristão. Que podem ter a certeza que nunca mais nenhum acólito se lembrará de se especar em frente a um solista, nem haverá tilintar de cálices e pratos a acompanhar um aaaaaa-méeeeen aaaaa-mmmmmmmméeeeeeeennnnnnn mais elaborado.
De modo que, se alguma vez estiverem numa igreja alemã e o coro se interromper a meio da peça, a culpa, no fundo no fundo, é minha...
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