28 abril 2009
histórias alemãs
I.
No domingo passado houve um referendo em Berlim, para decidir se nas escolas há aulas obrigatórias de Ética, sendo que quem quiser pode ter aulas suplementares da sua Religião, ou se os alunos (os pais dos alunos) podem escolher entre ter aulas de Religião e aulas de Ética (como acontece nas outras regiões da Alemanha).
Wowereit, o ministro-presidente de Berlim, marcou propositadamente o referendo para este dia, apesar de muito em breve se realizarem eleições para o Parlamento Europeu. Dizem os críticos que não se importa de gastar 1,4 milhões de euros (de uma cidade completamente falida) para baixar ao máximo as hipóteses de ganhar a opção "Ética ou Religião".
Os resultados do referendo mostram como o muro continua a existir vinte anos depois de ter caído: a parte ocidental votou "sim", a parte oriental votou "não".
II.
Na parte oriental de Berlim, depois de quarenta anos de comunismo, só sobraram os cristãos que eram realmente muito resistentes (agora me ocorre: aí teríamos bastante pano para mangas de novas canonizações...)
Em contrapartida, sempre houve muitos católicos na parte ocidental de Berlim. Ontem explicaram-me porquê, e é uma questão interessante de urbanismo: durante o século XIX nasceram junto às cidades áreas industriais, acompanhadas da respectiva poluição e do inevitável crescimento urbano. Os ricos instalavam-se na parte ocidental, do lado de onde sopra o vento, que levava a poluição para o leste, onde ficavam os bairros mais baratos. É assim que surgem os bairros a que se chama "Weststadt" (e eu já estranhava há muito porque é que esses são sempre os bairros mais giros das cidades alemãs: ruas inteiras com belas casas em estilo Arte Nova e cheias de árvores antigas).
Os ricos de Berlim, instalados nos magníficos bairros de Charlottenburg, Dahlem, Zehlendorf, etc., abasteciam-se de empregadas domésticas na Silésia. E estas eram católicas, pelo que em praticamente cada casa ou apartamento da parte ocidental de Berlim havia pelo menos um católico.
(Lutz, se esta história urbanística é mentira, não te acanhes: desengana-me. Estou a vender ao preço a que comprei.)
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