11 fevereiro 2009

59,6%


Pergunta-me um leitor deste post o que me diz o número 59,6%.
Antes de mais, que fique bem claro: a minha crítica dirigia-se àquele cartaz - que considero um insulto e uma ameaça para o bom funcionamento da Democracia -, e à ausência de reacções de protesto pelo seu conteúdo xenófobo. Para mais num país que tem, desde 1994, legislação anti-racismo e anti-xenofobia.
Quanto aos 59,6%:
Já devem ter reparado que sou uma feroz adepta do copo meio cheio - que digo eu?, do copo a transbordar! -, mas desta vez olho para 59,6% e vejo o seu oposto: para 40% dos que votaram é tão importante recusar a "livre" entrada a romenos e búlgaros que estão mesmo dispostos a arcar com as brutais consequências do "não".
A comunicação que o Presidente da Confederação fez ao país, a propósito deste referendo (aqui, em francês), é uma boa síntese do que estava em causa.
Resumidamente:
- a abertura a outras culturas é um enriquecimento, e para a Suíça é muito positivo fazer parte destes processos de reciprocidade;
- o "não" teria como consequência a revogação dos acordos bilaterais com a União Europeia;
- a Suíça não se encontra em condições de encetar um caminho de isolacionismo;
- a UE é o maior parceiro comercial da Suíça - 1/3 dos postos de trabalho neste país dependem das relações económicas com aquele parceiro;
- a experiência mostra que a abertura de fronteiras não tem resultado num aumento da criminalidade, de problemas com a população Roma, ou de abusos do sistema de apoio social;
- a experiência mostra também que a legislação contra o dumping salarial se tem revelado muito eficaz;
- para a abertura à Roménia e à Bulgária está previsto um período de transição.
Acresce a estes factos que dois dos pilares económicos da Suíça (o sistema bancário e o turismo de luxo) estão neste momento muito abalados, o que faz da facilitação crescente dos movimentos com a UE uma questão absolutamente vital.
Há ainda um facto muito curioso: como afirma a Ministra da Justiça numa entrevista (aqui, em alemão), a cooperação entre as Polícias no âmbito do acordo de Schengen tornou a Polícia suíça muito mais eficaz, dado que agora tem acesso a informação mais abrangente.
Mesmo assim, 40% dos eleitores que participaram no referendo votaram "não".
O fantasma da "invasão de Leste", e apesar de a experiência mostrar já que esse medo é infundado, pesou mais que o cenário realista de uma profunda crise económica.
Outro dado estranho é a taxa de participação: apenas metade dos eleitores se deram ao trabalho de ir votar.
Em suma, e regressando ao post que deu origem a este: não os compreendo, mas gosto deles na mesma. Pelo menos, dos do Engadin.
Que não puderam ir votar porque estavam soterrados em neve, risco de avalanche e tudo, isso sei eu, vi com estes que a terra talicoisa.


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