Ao ler o belo texto de Pedro Mexia sobre Olivier Messiaen, quase escorrego na geografia: fala ele num Stalag numa Silésia gelada, e eu dou por mim a imaginar Messiaen num gulag na Sibéria.
Esta dislexia toponímica ainda vai ser a minha perdição.
Mas a culpa é do Pedro Mexia, pois está claro, que vem com aquelas expressões "temperaturas negativas", "neve abundante", "gelo prisional da Silésia", e eu, catrapumbas, até me esqueço que estão a falar da região onde eu vivo.
Görlitz é aqui ao lado, pouco mais de uma hora de comboio. Uma cidade que ficou atravessada pela fronteira redesenhada depois da guerra. Metade alemã, metade polaca.
Passei por lá uma vez com uma amiga de Weimar, deixei escapar um "mas que cidade bonita!" e ela perguntou, surpreendida: "nunca foste a Dresden?!"
(Nota mental para o meu caderno de projectos de turismo: primeiro Görlitz, depois Dresden. A ordem inversa pode tornar-se uma decepção.)
Disseram-me que a cidade foi invadida por reformados da região de Hamburgo porque, perante os preços que ainda se praticam na antiga RDA, as reformas da antiga Alemanha Ocidental ganham um certo valor acrescentado. Além de ser um sítio agradável para viver.
Voltando ao gelo prisional da Silésia: ouvi uma vez na Turíngia um siberiano dizer: "aqui não há nem Inverno nem Verão, é sempre Primavera!"
Mais uma achega para a teoria da relatividade.
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