21 maio 2008

não fui eu!

...embora tenha sido vista nas imediações pouco tempo antes.

E então foi assim: ontem de manhã encontrei-me na Potsdamer Platz com um casal português que caiu na asneira de fazer férias em Berlim com uma criança de dois anos.
Para vermos a cidade, levei-os no elevador mais rápido da Europa ao topo de uma das torres. Mostrei-lhes a Filarmónica, contei que o edifício foi construído há quase 50 anos no que na altura era o fim do mundo, um descampado junto ao muro de Berlim, e mais uma vez me dei conta que continua a encantar como uma obra de boa arte.
Disse-lhes que às terças há concerto gratuito à hora do almoço, e ofereci-me para tomar conta do filho para eles poderem saborear a música e o ambiente do foyer.

(Não tenho grande álibi para as três horas que se seguem, porque fui ao supermercado com o rapazito e depois ele adormeceu. Além disso, ainda só diz papá, mamã, aqui e pum (esta última, ensinei-lhe eu - é o barulho que faço ao descer as escadas). Não teria como explicar à Polícia o que andámos a fazer. Para complicar, aquele "pum" presta-se a interpretações dúbias.)

Quando os pais regressaram, contaram que o concerto tinha sido muito bom, mas que mal a música acabou obrigaram toda a gente a sair do edifício. Sem revelarem que havia fogo, mas de forma firme, diziam "vamos fechar" e dirigiam as pessoas para as portas. Os portugueses acharam, quase sem surpresa, que os alemães têm a mania de cumprir horários, e não permitem nem meio minuto de atraso na hora de fechar a Filarmónica. Quando chegaram à rua é que viram o fumo a sair da cobertura, os primeiros carros de bombeiros a chegar, os músicos que vinham para um ensaio a iniciar um vaivém de formigueiro para salvar instrumentos do edifício.



(Foto tirada da torre onde tínhamos estado umas horas antes)


A nossa Filarmónica, que tristeza!
A ver se a consertam até fins de Junho, que nessa altura tenho cá visitas muito importantes, e ir a Berlim sem ver a Filarmónica é como ir a Roma e não ver o Giolitti.

***

Poucos meses depois de ir morar para Weimar, ardeu a Anna-Amalia-Bibliothek.
Começo a ter medo de mim própria. Isto é destino, não é culpa, mas corro o risco de me tornar persona non grata em todas as cidades do mundo.

2 comentários:

Ant.º das Neves Castanho disse...



Oh, que maravilha, ser por um dia personagem deste "blogue"! E para mais logo na sua pré-história (quando ainda nem tinha comentários...).


Que saudades dessas férias inesquecíveis, duma hospitalidade superlativa e dos tempos em que o nosso (então ainda único) filho só sabia dizer mamã, papá e aqui (já nem me lembrava que era assim nesse tempo!).


Obrigado, Helena, por este (inestimável) registo, e...


... muitos Parabéns (atrasados...)!

Helena Araújo disse...

Obrigada, A. Castanho.
É verdade: o tempo passa tão depressa!