26 fevereiro 2008

os vensedes da vida

Na altura em que saiu o novo documento da SEDES, rebentava na Alemanha um escândalo enorme devido à revelação de alguns casos de fugas aos impostos no valor de muitos milhões de euros.

A coincidência no tempo permite uma comparação interessante: enquanto a SEDES aponta para um estado calamitoso que se entranhou na alma portuguesa (repetindo, com outras palavras e mais detalhe, o que todos os dias se ouve nos cafés: "eles são todos iguais", "não se pode confiar em ninguém", "este país não tem saída"), na Alemanha as reacções são de repúdio contra o comportamento dos indivíduos apanhados em falta.
Os políticos vieram logo à televisão afirmar que "nós [os alemães] não somos assim" e "não se pode admitir este comportamento, isto é um péssimo exemplo para a nossa sociedade". Aproveitaram o caso para discutir de novo as exigências éticas das empresas e dos seus directores: quando os directores recebem salários 40 vezes maiores que os dos empregados (como é que justificam isso?!), e mesmo assim o dinheiro não lhes chega e decidem recorrer a contas secretas para fugir aos impostos, é preciso chamá-los à responsabilidade e dizer-lhes claramente que este não é o rumo certo para a sociedade.

Poderão os mais cínicos dizer que a Alemanha já tem experiência de tornear a realidade e de se iludir a si própria, experiência largamente adquirida nos anos do pós-guerra. Pode ser.
Mas há neste povo uma auto-estima, uma noção da dignidade a preservar, que não encontro nos portugueses.
Talvez andemos há demasiado tempo a dizer "este país..."

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A única pessoa que conheço com um discurso positivo é a Manuela Silva. Surpreendo-me sempre pela maneira como apela à nossa capacidade de fazer melhor. Como se não valesse a pena perder muita energia a dissecar o que está mal, como se fosse mais importante poupar as forças para um trabalho criativo e renovador.

Haverá outros, com certeza. Importante seria dar mais eco às suas vozes.

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(Com a sorte que tenho, o mais provável é alguém se ter lembrado antes de mim do trocadilho que vai no título.
Não é plágio. Deve ser antes (mais) um caso de telepatia desfasada...)

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