13 junho 2007

negligência e culpa

Eu devia ter desconfiado quando o vizinho veio convidar o Matthias para irem apanhar cerejas. Devia-me ter ocorrido que ir apanhar cerejas é uma variação de "vou-te mostrar uns coelhinhos que tenho em casa". Devia ter perguntado porque é que não leva um dos filhos dele. Devia ter investigado que cerejeira é essa onde qualquer um se pode servir. Devia ter-me lembrado que a maior parte dos casos de pedofilia ocorre no círculo da família e dos seus conhecidos - se não é o vizinho da frente, há-de ser o de trás.
Eu devia ter desconfiado, mas não desconfiei. Deixei-o ir na sua bicicleta, com a t-shirt vermelho bordeaux (FC Bayern München Deutscher Meister 2006), os calções azuis, as sandálias claras. Com um cesto rectangular amarrado à bicicleta, para encher de cerejas.

E ainda bem que não desconfiei, porque passou uma tarde formidável empoleirado nas árvores e a saltar de galho em galho, feito primata. E regressou feliz, trouxe o cesto cheio, cheio, a pingar cerejas pelo caminho.

Também não lhe perguntei se o vizinho lhe cometeu pecados contra a castidade. Devia ter perguntado?
Sei lá. Se um dia destes acontecer alguma coisa, vão-me acusar de negligência, e indagar porque é que não desconfiei, porque é que não tomei providências. Previdências.

E nem ouso falar do padre, com quem o meu filho se entende muito bem.

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