Num centro jesuíta de oração e estudos, em Nürnberg, no princípio do Advento, o padre recebe a escola de dança que escolheu aquele lugar para a matinée de Natal.
A sala está cheia de pais, avós e irmãos vestidos de festa, e o jesuíta dá as boas-vindas, recitando um poema de Santo Agostinho(*):
Eu louvo a dança
que tudo exige e estimula
saúde, mente clara,
uma alma leve.
Dança é transformação
do espaço, do tempo, do ser humano
sempre em risco de se fragmentar:
cérebro só, ou vontade, ou emoção.
A dança, contudo,
chama o ser inteiro
ancorado no seu centro.
Esse que não está possuído
pelo desejo de seres e coisas
e pelos demónios
da solidão interior.
A dança pede o homem livre
vibrando no equilíbrio
de todas as forças.
Eu louvo a dança.
Oh, gentes,
aprendei a dançar!
Caso contrário
no céu os anjos
não saberão
o que fazer convosco.
O público aplaude, ligeiramente comovido, o jesuíta retira-se, o espectáculo começa: primeiro as meninas de 5 anos que contam com piruetas e caretas uma história de gatinhos e doces, depois as quase adultas, com uma dança clássica. Os grupos vão-se sucedendo e, independentemente da qualidade, os familiares aplaudem freneticamente, que é para isso que lá estão.
Quando no programa já só resta uma linha, Chicago, o director da escola vem ao palco, conta que as bailarinas trabalharam arduamente para preparar aquela dança, e acrescenta: "pela coreografia responsabilizo-me eu; agora, quanto ao guarda-roupa... esse é da inteira responsabilidade das alunas!"
Elas aparecem com os primeiros acordes do musical, e recriam em movimentos sensuais plenos de segurança o ambiente sórdido de um bordel: miúdas de 13 e 14 anos, em dessous comprados no sex-shop, na festinha de Natal da escola de dança, perante os pais e os avós. Atónitos.
(* pior que tradução de tradução, só mesmo tradução de poema traduzido)
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