O problema de o blogue fechar para fim de semana é que o campeonato mundial já quase vai a meio, e eu só agora venho cá contar como foi o primeiro jogo.
Atão vá:
Os miúdos fizeram as suas pinturas de guerra e vestiram a farda futebolística para irmos assistir ao Alemanha - Costa Rica num cenário de festa, em ecrã gigante à sombra da célebre estátua de Goethe e Schiller, entre o teatro onde foi proclamada a república de Weimar e o museu da bauhaus, movimento que nasceu neste cantinho - como vêem, tem tudo a ver.
Fomos relativamente cedo para lá, para saborear bem a atmosfera de festa.
O problema era os dementors que andavam pela praça. Vestidos de preto, uma agressividade latente na maneira de avançar por entre a multidão, pareciam aparelhos de ar condicionado ambulantes: apesar do calor insuportável, por onde passavam, as pessoas sentiam frio.
Achei-os esquisitos, mas como estavam calados e não batiam em ninguém fiquei na dúvida se seriam neonazis ou não. Além disso, as frases em escrita gótica que traziam nas t-shirts só falavam da superioridade da Alemanha, o que é, convenhamos, aceitável - em tempo de campeonato mundial andam todos mais ou menos ao mesmo.
Mais tarde disseram-me que sim, eram. E que aquela praça não era sítio para se estar, sobretudo com crianças.
Ou seja: se um dia me encontrarem em coma, com o crânio rachado e cara de heureca, é porque o meu último pensamento foi "oooolha, afinal são mesmo neonazis!!!"
Para que não haja dúvidas sobre a minha lealdade: se Portugal não ganhar o campeonato, então está bem, que o primeiro lugar seja para a Alemanha (a Alemanha, aquele país, sabem, que tem bandeira verde, azul e amarela).
E contudo... gostei dos golos da Costa Rica - só porque deve ter dado aos costa-riquenhos uma felicidade momentânea do tamanho do mundo, e não custa nada.
Mais que isto não sei. O que me preocupa imenso, porque anda por aí um jornalista que me quer entrevistar na qualidade de portuguesa, e já estou com medo que me tirem o passaporte, ou talvez a autorização de residência neste país. Ele quer que nós, os estrangeiros de Weimar, lhe digamos alguma coisa de novo e muito original sobre o papel do futebol no entendimento entre as nações.
Em desespero de causa, telefonei para Portugal para me informar. Agora sei que uma equipa de futebol tem 11 jogadores: um à baliza, e os restantes aos encontrões pelo campo (aos anos que andava a tentar contá-los na televisão, mas eles não há maneira de pararem um bocadinho para me facilitarem o trabalho).
Venha o jornalista, já estou preparada.
***
E de novo os neonazis da praça, que não eram muitos mas deram cabo do ambiente durante o jogo de futebol: o que me surpreende mais é o ódio que destilam. O que será que lhes falta, que horrível mal lhes terão feito?
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