Convenceram-me a trabalhar no conselho de estrangeiros de Weimar, e lá fui eu à sessão de apresentação dos candidatos, com a minha cara típica de só cá vim ver a bola.
Eu bem digo que em Weimar não há estrangeiros: havia mais gente do lado dos candidatos que do lado do público.
Os candidatos dividiam-se, basicamente, em dois grupos: mulheres e homens.
Hihihi.
As mulheres eram quase todas avós russas. Os homens eram quase todos jovens estudantes cheios de energia e blablabla, com um discurso político de "temos de mudar as mentalidades, não podemos ficar de braços cruzados perante a ameaça neonazi".
Bem sei no que isto vai dar: organizam-se festas multi-culturais, e as avós russas desunham-se a fazer pelmeni para o povo. A mãe portuguesa fará rissóis.
Fartei-me daquela conversa que tocava as raias da xenofobia pelo avesso ("eles os alemães e nós os estrangeiros" e "em especial este país, com a particularidade da sua história" - como se os alemães fossem um grupo de risco) e cheia de propaganda eleitoral barata ("temos de mudar esta situação, é inaceitável que agridam pessoas devido à cor da sua pele" e "temos de nos dar a conhecer, para que eles não tenham medo de nós"). Lembrei que em todos os países há xenofobia e extremismo, que a Alemanha é dos países que mais longe leva a tomada de consciência da sua responsabilidade histórica, que o problema dos neonazis é para ser resolvido pela sociedade alemã e não pelos estrangeiros (que não passam de um bode expiatório ocasional) e que as categorias "os alemães" e "os estrangeiros" não significam nada.
Conclusão: não devia ler tanto o Canhoto - com uma intervenção destas ninguém vai votar em mim, nunca hei-de ter a honra de fazer rissóis para festivais multi-culturais em Weimar e a culpa é do Rui Pena Pires, que me trocou as voltas com aquela teoria do excesso de comunitarismo.
***
Não se perdeu tudo: aproveitei estar lá a televisão de Weimar para pedir que noticiassem uma iniciativa da escola da Christina ("Humboldts alte Hosen", outro dia conto, se correr tudo bem; se correr tudo mal, virá a notícia no jornal: emigrante portuguesa encontrada inconsciente junto a um garrafão de vinho do Porto) e alertei o presidente da câmara para o risco de esvaziamento de uma escola óptima que existe num quase-gueto de Weimar devido a políticas de contenção orçamental do ministério da educação, afastando o quase-gueto para ainda mais longe da cidade.
Foi a minha horinha de micro-causas.
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