19 fevereiro 2020

Berlinale 2019 - sétimo dia

[ Nota prévia: este post estava praticamente completo em Fevereiro de 2019. Mas depois foi-se metendo uma coisa e outra, e - como já começa a ser tradição - acaba por ser publicado na própria semana em que começa a Berlinale seguinte. Não se pode dizer que sejam propriamente notícias frescas, mas vou publicar agora os posts relativos aos últimos dias da minha Berlinale de 2019 porque também uso o blogue como auxiliar de memória. ]


E ao sétimo dia... filmes excelentes, sem excepção. 
Tive de correr um bocado para conseguir ir a todos, mas valeu a pena. Se valeu!


Pelo meio, consegui ver também o filme feito por uma amiga - melhor dizendo: pela miúda de quem fui au pair em 1990. Uma animação para "Be True to Your School", que agora passa em todos os concertos dos Beach Boys no momento em que eles tocam esta música. A Berlinale convidou-a para exibir o filme e fazer contactos com empresas da área. Portanto, já sabem: se querem que os vossos filhos façam carreira na Berlinale, arranjem de eu ser a au pair deles durante uns meses.



Enquanto assistia à gravação da entrevista chegou um grupo de miúdos para ver mais filmes. Gosto tanto de os ver, os passarinhos!


Ao fim do dia encontrei outra amiga. Acompanhava a equipa do Elisa Y Marcela. É sempre muito engraçado ver o contraste no tapete vermelho: a azáfama dos acompanhantes e dos guarda-costas, e o glamour das actrizes.

Os meus filmes no sétimo dia - o meu melhor dia nesta Berlinale:





Varda para Agnès, de Agnès Varda. Uma delícia de filme: Agnès, sentada no palco de um teatro, fala sobre os seus trabalhos a uma plateia jovem, e transforma aquelas duas horas numa pequena viagem ao mundo da criação artística. Com aquele seu ar simpático e simples, com frases profundas e transparentes, explica os motivos do que fez e o modo como fez. "Se abrirem uma pessoa, verão uma paisagem. Se me abrirem a mim, verão uma praia".
Um filme a ver e a rever.




Der Junge muss an die frische Luft / The boy needs some fresh air, de Caroline Link.
O filme é baseado na autobiografia de Hape Kerkeling, e tem um excelente Julius Weckauf na representação da infância do famoso humorista alemão.
Se precisasse de um subtítulo seria: a alegria para combater a tragédia.




Midnight Traveler, de Hassan Fazili. O realizador afegão vê-se obrigado a fugir dos talibãs com a sua família, e filma a odisseia dos quatro para conseguir chegar à Europa. O medo, a insegurança, os campos (prisão?) de refugiados. As meninas a crescer naquele ambiente entre o limbo e o inferno. As dúvidas do cineasta: quando filmas a tua própria vida, que critérios devem dirigir a tua mão na câmara? Quanto horror te deves permitir filmar?
No final, o realizador e a mulher subiram ao palco e forama aplaudidos de pé por uma assistência comovida e chocada.







Shooting the Mafia, de Kim Longinotto. Um excelente documentário sobre Letizia Battaglia, a fotógrafa da máfia siciliana. O filme combina com mestria as suas fotografias absolutamente extraordinárias com entrevistas e filmes da época para revelar a história recente da Sicília nos seus múltiplos níveis.

Elisa y Marcela, de Isabel Coixet. Baseado num caso verídico, o filme revela a descoberta do amor e do desejo de duas mulheres com muita sensibilidade, delicadeza e sensualidade.  
E depois dá aos portugueses um papel divertido e humano que me fez sentir de bem com as minhas gentes. Embora tenha lá um "chatear" que duvido que fosse normal dizer no princípio do séc. XX, e tenha uma fadista a cantar numa esplanada na Ribeira, a passar pela Elisa e pela Marcela ali sentadas, que também duvido muito que fosse possível acontecer naquela época. Mas pronto, que seria uma incursão no estrangeiro sem um bom par de clichés? Tudo isso e muito mais se perdoa só por incluir o Salvador Sobral com uma canção cujo texto parece feito de propósito para aquele filme.


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