04 dezembro 2018

ir num pé e vir noutro (com o coração cheio)


"Vá para fora cá dentro", quem me dera: é estranho ter uma casa a 2650 km da cidade onde moro.
2650 é o que diz o mapa google, e que devo ir pela A10. O que me dá vontade de rir, porque a A10 acaba às portas de Berlim. Depois, há que seguir pela A2, A1, A4, E42, ... e - vinte e seis horas mais tarde - A7 para o seu destino em Viana do Castelo, Portugal.
Mas é como tudo na vida: uma pessoa põe-se a caminho, e depois vai fazendo uma estrada de cada vez.
Só tínhamos três dias, fomos de avião. Com a consciência um pouco pesada: estamos a desgraçar o único planeta que temos. E logo um planeta tão bonito, e tão extraordinariamente generoso, e tão cheio de gente boa!

Dois dias e meio: o suficiente para festejar o aniversário de amigos, para nos deslumbrarmos com o jardim de Dezembro (o exagero dos dióspiros, as romãs abertas para os pássaros, os citrinos quase no ponto, os botões de camélias a abrir), para ir ver o outono em Ponte de Lima, para tirar fotografias dos pés na praia, para comer ostras e castanhas à lareira. No dia do regresso choveu muito (o que foi óptimo: para não custar tanto vir embora) e no meio do caminho havia uma teia de aranha, havia uma teia de aranha no meio do caminho.

(Ao chegar ao aeroporto, uma surpresa má: o saco com os dois pares de botas que queria deixar a arranjar no sapateiro de Ponte de Lima estava ali esquecido, a rir-se de mim. O que não dá jeito nenhum quando se viaja apenas com bagagem de mão, e se tem a malinha cheia de limões, dióspiros e pastéis do Natário.)



 









 

Fotografar da cama, à preguiçosa: "a room with a view"
 

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