11 outubro 2017

lutar contra o ódio no quotidiano (2)

A propósito do post que escrevi com exemplos de como desmontar os mecanismos de ódio, uma amiga ofereceu-me este texto:

CONTRA O FANATISMO (conferências de 2012 - Alemanha)
AMOS OZ

Vou contar uma história em jeito de divagação: eu sou um conhecido divagador.
Um querido amigo e colega meu, o admirável romancista israelita Sammy Michael, passou uma vez pela experiência, por que todos nós passamos de vez em quando, de andar de táxi durante um bom tempo com um condutor que lhe ia dando a típica palestra sobre como é importante para nós, Judeus, matar todos os Árabes. Sammy ouvia-o e, em vez de lhe gritar. "Que homem horrível que você é! É nazi ou fascista?", decidiu ir por outro caminho e perguntou-lhe: "E quem acha que deveria matar todos os Árabes?"
O taxista disse: "O que é que quer dizer com isso? Nós! Os Judeus israelistas! Temos de o fazer! Não há escolha. Veja só o que nos fazem todos os dias!" "Mas quem, especificamente, é que deveria fazer o trabalho? A polícia? Ou o Exército, talvez? O corpo de bombeiros ou as equipas médicas? Quem deveria fazer o trabalho?" O taxista coçou a cabeça e disse: "Penso que devíamos dividi-lo em partes iguais entre cada um de nós, cada um de nós devia matar alguns."
E Sammy Michael, ainda no mesmo jogo, disse:"Pois bem, suponha que a si lhe toca um determinado bloco residencial da sua cidade natal, Haifa, e que bate às portas ou toca às campainhas, e pergunta: "Desculpe, senhor, ou desculpe senhora. Por acaso é árabe'" E se a resposta for afirmativa, você dispara. Quando acaba o seu bloco, dispõe-se a regressar a casa, mas ao fazê-lo," continua Sammy "ouve, algures no quarto andar do seu bloco, o choro de um bebé. Voltaria para matar o bebé? Sim ou não?"
Houve um momento de silêncio e, então, o taxista disse a Sammy:
"Sabe, o senhor é um homem muito cruel."