21 setembro 2017

ah, e tal, os refugiados são todos pessoas horrorosas que não conhecem a nossa cultura e têm uma religião terrível que vai dar cabo da Europa...

Lailah, uma iraquiana de 16 anos que ia no metro berlinense (U6, para quem quer saber tudo) reparou que a velhinha cheia de sacos, que tinha estado ao seu lado, ao sair da carruagem se esquecera da mala. Pegou nela, descobriu que tinha 14.000 euros, foi para casa e entregou tudo à mãe. No dia seguinte foram ambas à polícia. A velhinha, de 78 anos, já tinha avisado a empresa do metro e a polícia, pelo que foi fácil encontrá-la, e verificar que não faltava nada.

Lailah vive há dois anos num albergue temporário para refugiados em Berlim com a mãe, um irmão mais velho e duas irmãs de 3 e 8 anos. Vinte e quatro metros quadrados para a família de cinco pessoas, sem cozinha. Lailah já fala muito bem alemão, e está num curso para ser assistente social. O pai ainda está no Iraque. O pedido de asilo para toda a família foi recusado, e estão agora à espera do resultado do recurso que apresentaram.

A lei alemã prevê a entrega obrigatória de um prémio a quem encontrar valores acima de 500 euros. No caso, Lailah teria direito a 215 euros, mas recusou aceitar o prémio. "Em momento algum pensei ficar com este dinheiro. A nossa religião não permite aceitar dinheiro que pertence a outras pessoas.", disse ela. E acrescentou: "Queríamos viver num apartamento, o que é muito melhor que ter dinheiro. Pode ser que agora alguém nos ajude a encontrar um."

(Nos sites alemães há imensas notícias sobre o caso - nomeadamente esta.)





2 comentários:

Paulo Topa disse...

Isto vai, isto vai...

Helena Araújo disse...

Sempre foi. :)
Também há - entre muitas outras - aquela história de um helicóptero que caiu perto de um centro de refugiados, e de os refugiados terem ido buscar os feridos antes que aquilo se incendiasse, e de terem prestado os socorros necessários para lhes salvar a vida.
E depois há as histórias quotidianas dos meus filhos. Mas eles não convivem com "refugiados", convivem com pessoas que têm nome, história e sonhos, e não gostam nada de serem metidos numa "gaveta" tão redutora como o nome "refugiados".