08 março 2014

breviário para a quaresma (8)

(continuo a numeração do ano passado)




As pessoas procuram raízes - nem que seja de rabanete ou beterraba. No meio da cidade, entre contentores de reciclagem de vidro e caixas de esgoto, começam a cavar, a regar, a arrancar ervas daninhas - desligam o telefone e trabalham a realidade com a enxada. Aqui, o homem deixa de ser o utilizador de Pods e Pads, deixa de ser o objecto de interesses exteriores. É ele próprio quem cava e quem colhe, dá-se conta do seu ser com todos os sentidos, especialmente quando é atacado pelas urtigas. Durante muito tempo a cidade foi considerada o lugar cujos habitantes se sentiam felizes por estarem finalmente livres dos trabalhos do campo e independentes das intempéries. Parece que este processo de emancipação está a tomar um novo sentido: livre é aquele que tira cenouras da terra. O Urban Gardening está a tornar-se algo muito mais importante que um mero sonho de Verão dos filhos da sociedade de bem-estar. Nas hortas urbanas cresce, ao lado dos legumes, uma mudança cultural.

Hanno Rauterberg

(aqui, März 8)


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