"Então através do bater da chuva e do rolar da tempestade ergueu-se do fundo da cozinha, velha, cansada e trémula a voz da Joana:
A minha alma engrandece ao Senhor.
O meu espírito alegra-se em extremo
em Deus meu Salvador.
Pois ele pôs os olhos na baixeza da sua escrava e de hoje em diante todas as gerações me chamarão de bem-aventurada.
Porque me fez grandes coisas o que é poderoso;
e santo é o Seu Nome;
E a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre os que O temem.
De súbito a Joana calou-se.
- Acabou? - perguntou a Gertrudes.
- Não, não acabou; mas estou velha, esqueci o resto.
Porém, do outro canto da cozinha, a voz do homem sentado à mesa dos pobres ergueu-se e continuou:
Ele manifestou o poder do seu braço e dissipou os que nos fundo do seu coração formavam altivos pensamentos.
Depôs do trono os poderosos e elevou os humildes.
Encheu de bens os que tinham fome e despediu vazios os que eram ricos."
Sophia de Mello Breyner, Contos Exemplares
***
Traduções, traduções...
Bem me apeteceu mudar algumas frases do Magnificat. Por exemplo, escrever assim: "Pois ele pôs os olhos na humildade da sua serva" ou "Encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias".
-- E despediu os ricos de mãos vazias.
Está escrito, há dois mil anos que é esta a mensagem.
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