Daqui a nada há eleições em Berlim, e as ruas estão cheias dos cartazes do costume.
Do costume? Não. O NPD, partido de extrema direita, conseguiu ultrapassar o próprio mau-gosto pela direita, com um cartaz onde se vê o candidato em cima de uma motorizada e se lê "Gas geben" (literalmente: "dar gás").
É um trocadilho, claro (e eles podem dizer que só pensaram no outro significado de "Gas geben", que é "carregar no acelerador"). Mas não terá sido por acaso que alguns desses cartazes foram colocados em frente ao Museu Judaico e à Casa da Conferência de Wannsee.
As pessoas estão chocadas, o Estado pouco pode fazer. Liberdade de expressão, dizem.
"Ai ele é isso?", perguntaram os de "O Partido", uns iconoclastas que aproveitam as campanhas para meter as suas colheradas satíricas. "Então está bem", acrescentaram, e deitaram mãos à obra. Fizeram um cartaz semelhante, onde em vez do candidato na motorizada se vê uma fotografia do Haider e do carro destruído em que morreu, mantendo a frase "Gas geben".
E colaram esses cartazes por cima dos originais do NPD.
Arriscam-se a ir a tribunal por andarem a danificar cartazes eleitorais alheios. E eles todos contentes: pois se o Estado de Direito está bastante manietado nesta questão, deste modo haverá uma oportunidade de a debater, dizem.
Ideias não lhes faltam, justiça lhes seja feita. Como este cartaz, em que se troca "Gas" por "Gras" (erva) e se aconselha a fumar apenas a erva produzida por agricultores alemães felizes:
Estas reacções dão-me vontade de rir, mas é um riso com um fim de boca amargo e falso.
Sinto-me perplexa e impotente perante os sinais de abuso da liberdade de expressão para provocar e para envenenar o ambiente social.
5 comentários:
Que coisa tão rasteirinha. Mais do que mau gosto, todo um programa. E, saco eu da minha ignorância, essa malta arrebanha o quê termos de percentagem de votos? Nas últimas eleições, é claro.
Apesar de tudo isso, o "Gras geben" tem graça.
Paulo, o "Gras geben" é muito divertido. O do Haider, pelo contrário, é de mau gosto. Mas aqueles gajos dizem que nasceram justamente para fazerem cartazes de mau gosto. Aliás: ficaram todos chateados com a NPD, porque dizem que eles é que têm o monopólio do mau gosto...
O do Haider é de muito mau gosto, apesar de fazer sentido no contexto.
Lamentável.
io,
então foi assim:
Nas eleições de Berlim há dois boletins de voto, um para o parlamento da cidade e outro para as diversas autarquias (enfim, os bairros)
Nas eleições para o governo da cidade de Berlim (que é um dos estados da federação) a NPD teve em 2006: 2,6 % dos votos. O suficiente para que o Estado lhes pagasse os custos da campanha, mas ainda muito longe dos 5% que permitiram meter um deputado no parlamento da cidade. Ufff.
Menos sorte tiveram as autarquias: a NPD meteu vereadores em quatro deles - Marzahn (3, 6,4%), Lichtenberg (3, 6%), Treptow-Köpenick (3, 5,3 %) e Neukölln (2, 3,9 %). Este último espanta-me, porque é um bairro de Berlim ocidental, bastante classe baixa e cheio de estrangeiros, que têm o direito de votar para as autarquias.
Em todo o caso, há uma clara diferença entre Berlim Leste e Berlim Ocidental (e isto 17 anos depois da queda do muro!)
Para o parlamento da cidade:
Berlim Ocidental: 1,6 %,
Berlim Oriental: 4,0 %
Na mesma altura houve eleições num dos estados da antiga RDA, e a NPD teve 7,3 % - conseguiu meter 6 deputados no parlamento desse estado. Uma tragédia para os outros partidos, porque o pessoal da NPD é muito provocador, e cria um ruído impossível - e pouco democrático - nos sítios onde se instala.
Fui ler a wikipedia alemã sobre o candidato deles, e é frustrante. O gajo diz enormidades incríveis, mas consegue sempre escapar pelas malhas do sistema, ou porque o processo demorou demasiado tempo, ou porque consegue passar por liberdade de expressão...
Alguns exemplos, só para veres o desplante dele:
- Um cartaz com a foto de uma camisola da equipa nacional de futebol, com o nº25 (um jogador negro) e a frase "branco - não apenas nas camisolas"
- En 2004, Udo Voigt provoque un scandale en Allemagne lorsqu'il qualifie, dans un journal allemand d'extrême-droite (Jeune Liberté), Hitler de "grand homme d'Etat" et la République fédérale allemande de "système illégitime".
Dans une interview diffusée le 10 décembre 2007 sur la chaîne allemande ARD, Udo Voigt relativise la Shoah et déclare: « Six millions de morts, cela ne peut pas être exact. Au maximum, 340 000 personnes sont mortes à Auschwitz. Ce que disent toujours les juifs, c'est "même si un seul juif était mort parce qu'il est juif, ce serait un crime". Mais il y a une différence entre payer pour 6 millions [de morts] et pour 340 000 ». Par ailleurs, le chef du NPD exige la « restitution de la Poméranie, la Prusse occidentale, la Prusse orientale et la Silésie. Car toutes ces villes sont selon nous allemandes, et nous réclamons d'exercer sur elles notre droit1 ».
Mais aqui:
http://en.wikipedia.org/wiki/Udo_Voigt
e aqui:
http://fr.wikipedia.org/wiki/Udo_Voigt
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