24 março 2009

brevíssima aula de gramática para jornalistas

(e prometo que é a última vez que falo sobre este assunto)
(...hoje)


A subordinação é o processo pelo qual duas orações se articulam, ficando uma (a subordinada) dependente de outra (a subordinante).
Quando uma subordinação exprime uma condição, não se pode omitir a oração condicionante e publicar a condicionada como se fosse uma afirmação independente, porque o sentido desta está dependente daquela.


Exemplo: se perguntarem a um cozinheiro famoso, o Alain Ducasse por hipótese, como equaciona a relação entre trabalho e talento para se obter sucesso na sua profissão, e ele responder

"Se não houver uma fortíssima componente de trabalho árduo e um enorme desejo de aprender, não é com talento que alguém se tornará um cozinheiro de sucesso: pelo contrário" (*)

é um erro gramatical grave cortar metade da frase e afirmar que, segundo Alain Ducasse, para se tornar um cozinheiro de sucesso não é preciso talento, e que este só atrapalha.



(*) Na realidade, a frase dele foi: "Para o sucesso é preciso 5% de talento e 95% de desejo de aprender e trabalho árduo" - Se bem me lembro, já um pintor famoso disse algo semelhante.

***

Se eu fosse o Vaticano, fazia um mega-processo contra todos os jornais que omitiram da frase do Papa a oração condicionante, e publicaram como afirmação independente apenas a condicionada. Obrigava os jornais a publicarem a frase completa, e a pagarem uma indemnização choruda - que eu, Vaticano, enviaria integralmente às comunidades católicas em África directamente envolvidas na luta contra a sida.

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