15 dezembro 2008

Concurso de Natal 2008 - Baltasar

Tenho de me apressar para o concurso na Barbearia, e já não me lembro bem em que ficámos no que diz respeito ao meu segundo Baltasar.

O distinto júri, na sua implacável sabedoria e inatingível neutralidade, decidirá com justiça e mérito.
(alguém sabe onde é a morada para entregar as luvinhas?)

O meu segundo Baltasar é este:



Vai também em perfil, para o competentíssimo júri poder apreciar a qualidade do trabalho.




A peça é muito bonita, mas a sua história é ainda melhor:

Era uma vez, há muitos, muitos anos, os meus sogros. Que andavam de férias na Provença, e acabaram a comprar a um jovem santonnier, chamado Robert Canut, algumas figuras para um presépio. Não muitas, que os tempos eram difíceis, e o rapaz já nessa altura conhecia o valor do seu trabalho.
Anos mais tarde - quase trinta - ao saber que o Joachim e eu andaríamos por aquelas paragens, pediram-nos que tentássemos arranjar mais algumas figuras para substituir as partidas e completar o conjunto.
Em Grenoble, primeira etapa da viagem, procurámos o Canut no minitel (alguém ainda se lembra do minitel?! não há dúvida que é mesmo assim que nos pomos velhos!), mas nada. Conseguimos, contudo, encontrar outros santonniers: uma cidade cheia deles.

Descemos de Grenoble para o mar por uma paisagem de sonho, e não me perguntem o nome da estrada, porque tenho a certeza que só existiu naquele dia para nos levar à cidade mágica.
Uma vez lá chegados, encontrámos, de facto, muitas lojas de presépios, mas nenhuma com as figuras de 10 cm como queríamos. Até que, lá para a quinta ou a sexta loja onde entrámos, a vendedora exclamou: "10 cm? mas santons desse tamanho, só o Canut é que tem!"

Sabem como é aquela sensação de "está-nos a acontecer um milagre e nem queremos acreditar!"?
Pois bem, foi assim mesmo.

O Canut morava afinal ali perto, e passámos uma bela tarde na sua oficina, a conversar com ele e a apreciar a sua obra.




Roubei a fotografia neste site, onde se podem ver outras figuras e um texto interessante sobre o autor, de que transcrevo o seguinte:

Robert Canut a son atelier du côté de Tulette au pied du Ventoux, dans cette Drôme provençale où coule le bon vin des côtes du Rhône. Robert Canut ne santonèje pas, il fait mieux, il est déjà un santon à lui tout seul avec ses cheveux embrousaillés par le mistral, son inséparable chapeau, son grand tablier et son brin de romarin aux lèvres. Fidèle à la tradition, il est le dernier représentant de la famille des santonniers dignes de ce nom. Il travaille seul, le santon est sa création totale. Un santon Canut ne ressemble à aucun autre tant son style est unique. Chaque santon est presque une pièce unique. Sa fabrication est en nombre limité et il faut passer commande, être patient, savoir attendre un an et parfois plus pour avoir la pièce convoitée, aperçue dans la vitrine ou déjà mise de côté pour un autre heureux acquéreur. Ses santons il faut les mériter. Bien sûr, ils sont bien faits, ils sont réalistes à souhait, mais n'ont rien à voir cependant avec les jolies figurines de certains de ses collègues qui, trop bien faites, ont quelque chose de saint-sulcipien. Les santons de Robert Canut ont quelque chose de plus qui fait qu'ils sont bien vivants, ils sont du pays, on les voit marcher, on les entend parler, vivre au rythme de leur temps, de leur métier. Ses santons bien sûr lui ressemblent, ils sont figés dans une attitude familière où, comme lui dans son travail, ils donnent le meilleur d'eux-mêmes. Là est son secret, le secret de leur beauté. Bien sûr il y a aussi ses couleurs, ses poudres de couleurs qu'il broye lui même. Son bleu notamment est unique et il n'y a guère que chez Carbonel où on retrouve un usage de la couleur aussi abouti.

Para os mais curiosos, acrescento que há também um documentário sobre ele. E mais este artigo de jornal, onde ele afirma que já decidiu que fará o seu último santon aos 126 anos de idade.
Pelo sim pelo não, vou-lhe telefonar amanhã mesmo para lhe lembrar que ainda não me mandou alguns da encomenda do ano passado. Estou especialmente curiosa para ver "les commères" - algo me diz que terão algo de "les causeuses" de Camille Claudel.

E cá vão mais algumas figurinhas, da colecção da casa.







Nesta última fotografia, a mulher do meio leva um bacalhau seco numa mão, e alhos na outra.

Chama-se femme à la morue - uma portuguesa num presépio provençal.

Sem comentários: