Ou então: agarrem-me, que estou com vontade de trocar a nacionalidade portuguesa pela alemã.
Há dias assim.
Os alemães podem votar sem terem de comparecer a um local de voto. No dia das eleições podem estar a gozar um bom fim-de-semana ou férias, podem estar ausentes por churrasco no jardim ou estágio no estrangeiro, ou até envolvidos num projecto internacional sei lá o quê neste mundo cada vez mais globalizado. Podem votar com alguma antecedência numa assembleia eleitoral aberta previamente para o efeito, ou enviar o voto pelo correio.
Eu, cidadã portuguesa residente na Alemanha, posso votar por correspondência para as eleições da minha autarquia ou do parlamento europeu. Mas não posso votar por correspondência para eleições portuguesas - como se os emigrantes morassem todos à esquina do seu local de voto.
Parece que acabaram com essa possilidade devido às irregularidades. Mas, convenhamos, se é esse o problema, não seria mais fácil tratar de corrigir as irregularidades, em vez de impedir os emigrantes portugueses de exercerem o seu direito de voto?
É nestes momentos que me lembro daquela frase "daria a minha vida para que tu possas dizer o que quiseres, mesmo que não concorde com a tua opinião".
Pois: estou capaz de oferecer o meu apartamento a emigrantes eleitores do PSD que tenham de se deslocar a Berlim para votar.
(Nada, nada, passa-me já, é só contar até vinte e respirar profundamente, e retiro já o convite aos eleitores do PSD)
(Mas pergunto-me, muito sinceramente, se me vale a pena dar-me ao trabalho de ir ao consulado votar num partido que assim me complica o exercício do mais básico direito democrático. Não é que considere o PSD melhor, mas começo a desconfiar se é assim tão pior que o PS!)
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Por sorte que o 10 de Junho ainda vem longe. Porque se fosse agora, e viessem com aquela cantilena habitual das comunidades portuguesas e os nosso queridos emigrantes e o $#%&"#$, se fosse agora, dizia, não seria capaz de impedir um chorrilho de malcriadices que até a mim própria fariam corar.
Mas sempre quero ver que belos discursos empulgados farão no próximo Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
"Empulgado" não é erro ortográfico, é fúria.
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Emigrantes, que meios de protesto nos restam?
Encerrar imediatamente as nossas contas de emigrantes na Caixa Geral de Depósitos?
Cortar o mais possível nas remessas (já não é desta que mando uns mil euritos para pintar a minha casa em Portugal)?
Mudar de nacionalidade (já estive bem mais longe de o fazer)?
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ADENDA
No ma-schamba há uma lista de links para blogues onde este assunto foi discutido. Gostei especialmente deste, no respirar o mesmo ar, e fartei-me de rir com o desabafo do Marco Oliveira.
Completo com este apontamento, da Snowgaze.
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