Por culpa do Gato Fedorento, acabei no Assim Não.
Queria comparar o vídeo original com o sketch dos brincalhões, e devo dizer que o original é muito mais engraçado.
Por culpa da curiosidade, abri a página "sabia que" desse blogue, e fiquei a saber que em 2006, a Alemanha aprovou um incentivo à natalidade de 25 mil euros por cada nascimento.
Ainda bem que me avisam, vou fazer disto um modo de vida. É só mais 10 anos e 10 filhos e tenho a casa paga.
Ora bem: isto é desonestidade pura.
A Alemanha resolveu compensar os pais pelo dinheiro que perdem ao ter um filho, pagando uma parte do salário que o pai ou a mãe deixam de receber por ficarem em casa.
Quando um dos pais deixa de trabalhar para ficar em casa com a criança, o Estado paga 67% do salário que se perde, até um máximo de 1800 euros por mês, durante 12 meses, ou 14, caso o segundo elemento do casal decida fazer também uma pausa. Se ambos os progenitores estão desempregados, recebem um abono de família no valor de 300 euros por mês (a somar ao subsídio de desemprego ou aos apoios da Segurança Social). Famílias de baixos rendimentos, que já tenham vários filhos, ou a quem nasçam gémeos, recebem um abono de família de valor superior ao normal.
Isto não é bem um estímulo, é mais uma limitação de danos.
E duvido que tenha algum efeito positivo, neste momento de medo do desemprego e do futuro.
No Assim Não irritou-me a falta de links para receber mais informação. A que propósito um site com um cuidado gráfico tão grande recusa a linguagem linkada da internet?
É o primeiro blogue que vejo em estilo Almanaque de São José, com frases curtas e simples, tipo "sabia que num beijo se transmitem 18.000 bactérias?", ponto.
Por acaso eu sabia como é o novo sistema de apoio às famílias alemãs, e percebi que aquela frase era uma burla.
Mas, e agora? Como posso confiar no resto das informações lá apresentadas?
Alguém me explica melhor o que está por trás das seguintes frases?
- Não há mulheres detidas pelo crime de aborto em Portugal.
- Em 2005 houve 73 casos, e não milhares, de mulheres atendidas na sequência de abortos clandestinos. (Este "73" é tão sério e infalível como os "25 mil euros" de prémio à cabeça?)
- O número de abortos clandestinos está calculado em 1800 por ano. (Como calcularam?)
- 62% dos abortos realizados em países europeus com legislação semelhante à pretendida em Portugal, são realizados por mulheres com rendimentos familiares superiores a 65.000 euros por ano. (serão fúteis motivos de consumo, mas também a dificuldade de compatibilizar os horários das creches e escolas com os das video conferences americanas?)
- 6% dos abortos realizados em países europeus com legislação semelhante à pretendida em Portugal, são realizados por mulheres com rendimentos familiares inferiores a 7000 euros. (ah, esta também sei decifrar: para uma família alemã com rendimentos inferiores a 7000 euros - o que não existe, diga-se de passagem -, a chegada de uma criança pode significar um aumento significativo do rendimento e do bem-estar, medido por exemplo, pela mudança para uma casa maior, cuja renda é paga pela Segurança Social)
- Em todo o mundo, o aborto sem invocar qualquer razão é permitido em 22 de um total de 193 países. (Quais, já agora?)
***
Voltando aos apoios financeiros à maternidade: é positivo que o Estado e a sociedade reconheçam o valor da maternidade. Não apenas com apoio financeiro e legislação que protege o emprego das mães, mas com práticas sociais que respeitam e valorizem o esforço das mulheres.
Contudo, apesar das boas intenções, a realidade fica muito aquém do ideal: as mulheres em idade fértil têm dificuldade em arranjar emprego, e se ficam em casa com os filhos têm dificuldade em reentrar no mundo profissional. As mulheres que estudaram e começaram uma carreira são obrigadas a escolher entre a maternidade e a realização profissional - o que resulta numa diminuição da taxa de natalidade entre as mulheres com mais alto nível de instrução, traduzida na frase "a elite alemã não se reproduz". As mulheres que não estudam e não têm emprego são acusadas de fazerem filhos para viverem do abono de família - o que, convenhamos, traduz uma certa dificuldade de assumir o respeito pela dignidade da Vida, intra- ou extra-uterina.
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