09 dezembro 2020

momento de mesquinhês


Bem sei que estou a ser mesquinha, e que isto é um detalhe sem importância, mas é muito cómico: José Rodrigues dos Santos escreveu de novo a rebater os argumentos de quem critica o modo como falou do Holocausto e as informações que deu na famosa entrevista da RTP. Como não podia deixar de ser, começa por dizer que se lermos os livros dele vamos compreender melhor (nem sei porque é que ainda me surpreendo). Depois, bastante mais à frente, em resposta a João Pinto Coelho, diz:
"Quanto a eu ter dito “nenhum autor português escreveu sobre o assunto”, o que eu disse na entrevista à RTP foi que “não estou a ver nenhum autor muito conhecido que tenha ainda tratado o tema”, mencionando José Saramago e Lobo Antunes. Já vi que se considera nessa categoria, e não o vou desmentir porque acho muito bem que seja um homem confiante e que acredite em si e nas suas capacidades (...)."
Se bem me lembro, aquela parte da entrevista era para explicar porque é que decidiu escrever sobre o assunto: porque ainda não havia livros de escritores portugueses sobre isso.
Se responde agora a João Pinto Coelho dizendo que se referia apenas a escritores do nível de um Saramago ou um Lobo Antunes, então ele próprio está a pôr-se no pedestal dos outros dois.
Mas acusa o João Pinto Coelho de "ser um homem confiante e que acredita em si e nas suas capacidades".

2 comentários:

Jaime Santos disse...

Continuo na minha, Helena Araújo. Rodrigues dos Santos é uma figura absolutamente menor, sem qualquer profundidade e conhecimento da História.

Não fosse a utilidade desta polémica para esclarecer as pessoas sobre o que realmente foi o Holocausto (obrigado a si também por fazer isto) e mais valeria ignorá-lo, muito embora seja necessário lembrar que há quem o leia e o leve a sério.

Tive em tempos que fazer uma cara muito séria quando alguém me explicava o tema de um dos seus livros de aventuras, que eu sabia ser um completo disparate...

E agora, com a dita polémica, ele não mostra sequer respeito pela memória das vítimas.

Como muitos outros que resolveram escrever sobre este tema sem o conhecer profundamente, quando verificou que tinha metido o pé na argola, em vez de fazer o que qualquer pessoa decente faria, que seria pedir desculpa e dizer simplesmente que tinha proferido uma frase muito infeliz numa entrevista, mas que não se revia no que disse, resolveu fazer um double-down e decidiu meter-se ao barulho com pessoas como Irene Pimentel que, essas sim, sabem do que falam. Deve ser porque é um 'homem confiante e que acredita em si e nas suas capacidades'...

Teve sorte de viver num País onde o tema não provoca, infelizmente, comoção pública, o que revela a nossa ignorância não apenas em relação à História do sec. XX, como também ao anti-semitismo que permeia a nossa própria cultura. Fosse ele alemão ou americano e não saberia onde se meter...

Não sei se ele caminha num plano inclinado em relação ao Holocausto, parece-me que caminha num plano inclinado relativamente a perder a pouca credibilidade que tem como jornalista (porque como escritor tem zero).

Agora, a pergunta que coloca é muito bem colocada. Como é que a RTP decide entrevistar um dos seus, concedendo-lhe publicidade gratuita, sobre um tema que ele não domina? Qual é o interesse jornalístico, histórico, etc, em entrevistar um mau escritor que se põe a debitar disparates?

Já sabemos que os telejornais das televisões privadas incluem 'reportagens' às novas produções desses canais, mas isto é de uma escala diferente, pode no limite indiciar um favorecimento pessoal.

Infelizmente, a 'democracia' das redes sociais, e a popularidade de autores como JRS já não permite uma coisa muito simples, mas que de certeza não constitui bullying, porque é o objecto da crítica literária desde há muito.

Quando algo não passa de 'pintura de rabo-de-gato' (apetecia-me escrever outra coisa) deve ser denunciado como tal...

E se os livros de JRS forem finalmente expostos por aquilo que são, pelo menos quem se quiser dar ao trabalho saberá que não passam de pura ficção... Como as tretas do Dan Brown, só que para bastante pior...

Helena Araújo disse...

Jaime,
concordo com tudo, excepto com a escolha do post para fazer o comentário. :)
Vou copiá-lo para o post correcto. Que é este:
https://conversa2.blogspot.com/2020/12/tentativa-de-debater-as-ideias-de-jose.html