18 fevereiro 2020

isto agora só lá vai com muros?


Três cientistas europeus juntaram-se para responder à questão sobre como evitar que as áreas costeiras do Mar do Norte, onde vivem 25 milhões de pessoas, sejam submergidas pelo aumento do nível do mar que já está em curso.

No trabalho publicado no American Journal of Meteorology, de onde tirei o gráfico acima, propõem a construção de duas barragens descomunais: uma de 161 km entre a Bretanha e a Cornualha e a outra de 500 km entre a Escócia e a Noruega. O resultado a prazo seria a transformação de boa parte do Mar do Norte num enorme lago de água doce, alterando os ecossistemas, aumentando enormemente os custos da navegação, etc. etc. etc.
O projecto custaria entre 250 mil milhões e 500 mil milhões de euros. E seria ainda necessário ter bombas potentíssimas a trabalhar permanentemente para atirar para o outro lado da barragem toda a água dos rios que desaguam nesse mar. Mesmo assim, seria provavelmente mais barato do que ter cada região a tentar resolver o seu problema (como nos Países Baixos já se começou a fazer).

Conclusão dos cientistas: às tantas era mais eficiente e mais barato começarmos a reduzir imediata e drasticamente as emissões de gases com efeito de estufa.

Aqui em inglês e aqui em alemão.

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Também tem um gráfico semelhante para o Mediterrâneo: fazer uma barragem no estreito de Gibraltar.

Ao olhar para o gráfico quase ia desatando a rir: os africanos já não precisariam de barcos para chegar à Europa, podiam atravessar o mar de pés enxutos, como Moisés.

E se o Mediterrâneo se tornasse um lago de água doce, os conflito entre Israel e os palestinianos ia ficar muito mais aliviado, porque a água já chegaria para todos.

Mas depois reparei que Portugal fica fora da zona protegida. O que é uma boa notícia, porque não tínhamos que pagar aquele dinheiro todo para construir a barreira de protecção, e uma péssima notícia, porque a esmagadora maioria dos portugueses mora junto à costa. Mas também é uma boa notícia para o interior: ia voltar a repovoar-se.

Até há cerca de 5 anos costumava brincar com a ideia de dentro de meia dúzia de séculos a minha casa numa aldeia minhota se tornar uma casa de praia. Agora já não me dá vontade nenhuma de rir. O processo já está em curso, e a acontecer muito mais depressa do que pensava.


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