16 dezembro 2019

tudo o que cabe num domingo

Ontem estava um domingo extraordinariamente bonito para o Dezembro berlinense. Só faltava mesmo a neve a cobrir tudo, mas essa senhora há 3 anos que não dá grandes ares da sua graça por aqui.

Tínhamos amigos de visita por cá, e levámo-los a uma voltinha clássica dos dias bonitos: o lago Wannsee.



Começámos pela casa de Max Liebermann. Estamos quase no Natal, mas não há sinais de a neve ter alguma intenção de vir até Berlim. No jardim havia um carreiro de couves de Bruxelas, por sinal bem viçosas. Ao lado de outro, de couves com folhas avermelhadas. Jardim de pintor é assim: uma paleta de cores.

(nota mental: da próxima vez fotografo do jardim para a casa, para não apanhar aqueles carros estacionados na rua)



Não se vê bem, mas a casa foi desenhada de modo a que quem se senta no banco branco atrás da fotógrafa deixe que o olhar vagueie pelos canteiros - que no verão transbordam com as cores das flores, dos frutos e dos legumes - até ao fundo deste caminho, e atravesse a casa de encontro ao deslumbrante azul do lago.



No meio do caminho havia bétulas, havia bétulas no meio do caminho - sei há anos que estão ali, e surpreendem-me sempre.


Esta fotografia não presta para nada, mas a cena era bonita: os cormorões ao fundo do quintal a saborear o sol de Dezembro.



Esta fotografia não presta para nada, mas a cena era bonita: um humano ao fundo do quintal a saborear o sol e a luz deste domingo de Dezembro.









A exposição que está neste momento na casa do Liebermann não é grande coisa. Admito que, ao fim de dez anos a tentarem encontrar temas para exposições que tenham a ver com o Liebermann ou com o Wannsee, o material comece a escassear.
Distraí-me a fotografar o jardim a partir da janela de uma das salas.


Deste lado do lago Wannsee fizeram uma urbanização de luxuosas mansões com jardim até ao lago e embarcadouros privados.


Da casa do pintor judeu Max Liebermann à casa da Conferência de Wannsee é um passeio curto. Costumamos levar os amigos a ambas. Mas descobrimos ontem que a casa da Conferência de Wannsee está em obras. Reabre no dia 20 de Janeiro, com a exposição inteiramente remodelada.
"E a foto da Leni Riefenstahl?", perguntei eu.
"Não sei. A exposição vai ser muito interactiva, é tudo o que me disseram", respondeu a senhora da recepção.
Mania de mexer em equipas que ganham, pá!

Subimos ao andar de cima, o do centro de documentação, porque havia lá uma pequena exposição. Enquanto subia, reparei pela primeira vez no trabalho de ferragem das escadas. Um trabalho de luxo, numa mansão de luxo.

Em Janeiro de 1942 decorreu aqui uma reunião com representantes de vários departamentos, com o objectivo de "afinar agulhas" para o Holocausto. Em vez de uma convocatória autoritária, os participantes receberam um convite para um aprazível pequeno-almoço numa mansão junto ao lago Wannsee: o luxo como isco para predispor as pessoas a colaborar no Horror.
A pequena exposição que está no primeiro andar da Casa da Conferência de Wannsee é sobre Joseph Wulf: um tema que merece um post só para ele.



O meu restaurante favorito no Wannsee tem uma inovação que lhe tirou toda a graça: um enorme toldo iluminado sobre o terraço junto ao lago.
Dizem que não há amor como o primeiro, mas que fazer quando o primeiro amor já não é quem era?



Um bocadinho de kitsch no Ku'damm.
(que seria do Natal sem o kitsch?...)
(um tempo mais sossegado, diria eu)


 
Para terminar o domingo em grande: Kammermusiksaal.




François-Xavier Roth e a Mahler Chamber Orchestra (que, se percebi bem, é a extensão adulta da Gustav Mahler Youth Orchestra; quando algum músico desta chega àquele ponto em que nem com a melhor das boas vontade se lhe consegue chamar "jovem", pode ir reviver os bons velhos tempos na orquestra dos seniores)


Havia Haydn, mas como não há almoços grátis tivemos de gramar também com um Ligeti. E um Martinu, mas essa peça tinha uma energia muito boa, passou-se bem.

Além de que tivemos direito a solo do Stefan Dohr: Des canyons aux Étoiles, de Olivier Messiaen.



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