08 agosto 2018

concurso de Verão - adivinhem em que país são estas Finanças

Para não serem só os jornais a passar estes concursos parvos de Verão vou contar aqui umas historiazinhas verídicas e vocês tentam adivinhar em que país (Portugal ou Alemanha) isto se passou.

1. Uma contribuinte preenche a declaração trimestral online de impostos, paga o imposto devido, e envia como de costume a mensagem com a declaração dos impostos. Infelizmente envia a mensagem com a declaração em branco (não tentem fazer isto em casa). Passadas algumas semanas recebe uma carta dizendo que tem de pagar uma multa de 10 euros por não ter entregado a declaração de impostos. A contribuinte protesta, entrega a declaração correcta e diz que já tinha pago dentro do prazo, pelo que não é devida multa. A resposta: "Não basta pagar, também tem de entregar a declaração dentro do prazo. Mas como é uma contribuinte cumpridora e que nunca dá problemas, vamos anular essa multa."

2. Uma contribuinte tem uma perguntinha sobre se deve pagar um imposto ou não, e escreve um email às Finanças às 11:44. Às 12:37 recebe uma mensagem com a resposta à sua pergunta. 

3. Uma contribuinte não percebe nada do que anda a fazer, de modo que paga um montante excessivo de IMI. Passados uns tempos recebe uma carta em papel a informar que pagou a mais, e que esse montante vai ser descontado da próxima prestação. Mas como a pateta da contribuinte tem uma transferência automática para esse imposto, e não a mudou, a cada novo pagamento recebe a mesma carta. Até que um dia telefona para o número que vem na carta, atendem-lhe logo o telefone, e o pobre do funcionário explica com toda a paciência o que deve ser feito para ele deixar de enviar cartinhas.

4. Uma contribuinte paga o IMI. Passadas umas semanas recebe uma carta das Finanças, dizendo que tem de pagar uma multa de 23 euros por não ter pago o IMI. Dirige-se às Finanças mais próximas com o comprovativo do pagamento, onde lhe dizem que o assunto só pode ser tratado numa determinada morada (única para todo o país). Dirige-se a essa morada, prova que fez o pagamento, e que o motivo para o problema foi o erro num dos dígitos da referência para pagamento, mas que acrescentou o seu nome completo, pelo que seria fácil os serviços perceberem de que se tratava. Respondem-lhe que não podem fazer nada. O melhor é pagar o IMI e a multa, e protestar depois. Protesta, porque não quer pagar o IMI duas vezes. Dizem-lhe que não há nada a fazer porque "esse pagamento está perdido no sistema", e que o melhor é pagar imediatamente, caso contrário vai receber uma multa ainda maior. Paga, e a funcionária tenta dar-lhe uma luzinha ao fundo do túnel: "pode ser que um dia destes eles descubram que têm ali uma soma que não deviam, e devolvem para a sua conta bancária". Até hoje.

5. Uma contribuinte paga o imposto do cão todos os meses, quando devia pagar apenas trimestralmente. As Finanças devolvem o montante excessivo automaticamente para a conta bancária da contribuinte.

6. Uma contribuinte passa um recibo com IVA, e apercebe-se depois que não devia ter pago o IVA. Telefona às Finanças. A funcionária diz que isso é um problema, porque já está registada como contribuinte com IVA no sistema informático, e a funcionária não tem como alterar isso. Mas acrescenta que vai falar com o gestor do sistema informático, para tentar corrigir o erro. Passado pouco tempo telefona a informar que o problema está resolvido.

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Caso seja demasiado difícil, dou uma pequena ajuda: o modo como sou tratada pelas Finanças é um motivo muito forte para continuar a viver na Alemanha, e para ter medo (a sério: medo) de me mudar para Portugal.


7 comentários:

victor sousa disse...

e tem toda a razão. Eu tenho um filho a trabalhar temporariamente na Alemanha, o que já acontece há 3 anos, e diz que estamos (Portugal) a anos-luz! De maneira que deixes-se estar. Pode ser que "eles" ponham o país à venda, e tenhamos a sorte da Alemanha comprar.

Rita Maria disse...

Uma vez fui às Finanças na Alemanha abrir atividade. Não percebi nada. A senhora disse-me que se não conseguia perceber como preencher o formulário então não ia conseguir abrir atividade, os outros também tinham tido de perceber.
Outra vez fui às Finanças na Alemanha, tinha um grande imbróglio que a senhora me ajudou a resolver, com paciência e quase carinho.
Já fui muitas vezes às Finanças em Portugal. Fui sempre bem atendida e já me perdoaram duas multas de esquecimento de entrega da declaração do IVA, por esta ser nula e não haver prejuízo para o Estado.

Tenho coisas muito más a reportar da Segurança Social, que funciona escandalosamente mal, embora eu pessoalmente nem tenha tido muito azar.
Das Finanças nada, sempre me tentaram ajudar, regra geral foram justos, foram sempre educados e corteses e achei a nova plataforma de preenchimento do IRS muito boa.

Conde de Oeiras e Mq de Pombal disse...

Assim é, infelizmente.

E com a "justissa" portuguesa as coisas ainda são piores!

Salva-se, apesar de tudo (e de um modo geral), o nosso SNS. Que Deus no-lo conserve...

Susana Rodrigues disse...

Olá Helena, então cá vai o meu palpite:
1. e 2. Alemanha; 3. e 4. Portugal; 5. e 6. Alemanha.
Acertei?
Eu quando abro a caixa do correio, vejo uma carta das finanças lá dentro e não estamos em mês de IMI nem de IRS, ou seja, de receber cartas das finanças por razões conhecidas, começo logo a ficar nervosa. Em que país vivo eu?
:-)

Helena Araújo disse...

Víctor Sousa,
calma, ainda não é caso para pôr o país à venda!

Helena Araújo disse...

Rita, sim, também já me aconteceu de ter ido às Finanças alemãs fazer perguntas, e eles me dizerem que devia ir consultar um contabilista.
Que segurança social funciona escandalosamente? A alemã ou a portuguesa?
O meu grande problema com as Finanças portuguesas é a prepotência do pague agora e reclame depois. É um organismo que tem demasiado poder, e parte do princípio que o contribuinte é desonesto.
(Pelo menos é assim que sinto)

Helena Araújo disse...

Susana, só o 4. é que foi em Portugal. Não me devolveram um pagamento, e obrigaram-me a pagar segunda vez e com multa.
Os restantes são na Alemanha.

Suspeito que esse fenómeno das cartas das Finanças pertença não a um país, mas a uma realidade paralela no mundo inteiro. Eu sinto exactamente o mesmo! :)