20 julho 2018

"parque" (1)

I.



Por causa desta minha carburação lenta ainda me vou desgraçar em multas pagas em mines. Bem me digo que por causa dos fusos horários vou dormir quando os colegas estão mais activos, e depois escrevo quando todos os outros ainda estão a dormir, e portanto - tecnicamente, digamos - ainda estamos na palavra mágica do dia anterior, mas a verdade é que um dia destes me vou desgraçar em mines, e nem a alma se me aproveita.
A propósito de um post sobre um  #parque temático da Madeira lembrei-me de um parque temático em grande, feito entre Berlim e Potsdam por um Kaiser alemão que gostava de brincar às casinhas. Nada menos que uma pequena Europa: o palácio italiano de Glienicke, o palácio inglês de Babelsberg (com o seu magnífico parque à maneira inglesa, com ruínas e tudo) (aimeudeus, que acabei de me lembrar de idêntico parque feito por Goethe em Weimar, com ruínas construídas usando as pedras do palácio ducal que tinha ardido poucos anos antes, etc., e se vou por aí só acabo daqui a duas ou três palavras mágicas) e, obviamente, uma aldeia suíça entre a Itália e a Inglaterra. Esta aldeia, com os seus chalets de madeira, é Klein-Glienicke, que ficou famosa por ser um "exclave" da RDA em Berlim Ocidental. Vejam o mapa: a fronteira passava pelo meio do canal, e este separava a aldeia de Klein-Glienicke do resto da RDA. Para fugir para Berlim ocidental, bastava saltar para um dos barcos que passavam encostadinhos ao fundo do quintal.
Quem vem a Berlim não costuma ir passear para aqueles lados, mas vale bem a pena ir visitar este parque temático imperial e, em particular, a aldeia que conserva ainda alguns dos chalets suíços (outros foram arrasados porque estavam demasiado perto do muro, e bastava saltar da varanda para entrar em Berlim ocidental) mas da qual se apagou praticamente tudo o que era vestígio desse tempo de má memória que foi o do muro de Berlim.
A ponte de Glienicke, essa grande do lado esquerdo da imagem, é a famosa ponte onde se trocavam os espiões.
(Se isto fosse os EUA já tínhamos aqui um fantástico parque de diversões, com pipocas, hot dogs e entradas a 20 dólares...) (vá, aproveitem enquanto é de graça)



II.

 

Carburação lenta, take 2 - para falar das colónias berlinenses do fim do século XIX. Por exemplo: a Colonie Alsen, no Wannsee, criada na segunda metade do séc. XIX como zona de fim-de-semana e repouso das famílias mais ricas de Berlim (perto do parque temático de que falei no post anterior), ou a "Colónia dos milionários Grunewald" (https://bit.ly/2LC0mt6), criada à imagem da Alsen, mas como zona residencial bem mais próxima do centro da cidade.
Os planos que aqui partilho mostram bem que os projectos de ambas previam talhões imensos, com apenas um palacete (mais as casinhas do porteiro, do jardineiro, etc.). Ou seja: uma casa no meio de um #parque privado. O projecto de Grunewald incluiu ainda a criação de vários lagos artificiais (esses que eu agora fotografo nos passeios com o Fox).
Ao longo dos cem anos seguintes, os parques foram dando lugar a mais casas. Por um lado a pressão imobiliária, que era enorme, por outro a crise de 1929, que obrigou muitos dos proprietários a vender parte do parque para fazer frente às despesas, mais a guerra que destruiu algumas das casas, mais os herdeiros que não tinham como manter tudo e vendiam talhões do parque, tudo isso contribuiu para que a actual paisagem destas ruas pareça uma anedota urbanística de mau gosto: a um palacete de ricos burgueses segue-se uma casa dos anos 30, depois um cubículo minimalista dos anos 60, depois um horror dos anos 90, e logo a seguir outro palacete de ricos burgueses do séc. XIX, uma casa dos anos 30, e assim sucessivamente. Em alguns casos, todas essas construções de épocas diferentes aparecem unidas pelo muro original do parque privado.
Entrem no google street view, e passeiem por lá (endereços possíveis: "Am grossen Wannsee" ou as ruas que saem da estação de S-Grunewald) para ver o aspecto actual desses bairros.


III.
Carburação lenta, take 3 (e último, que eu não ganho para mines, e vocês ainda acabam todos no vício só por minha culpa): os #parques nacionais. Não sei bem em que século começou a haver essa preocupação de preservar a natureza e a paisagem natural, mas em tardia hora criaram todos esses parques que hoje procuramos em busca de uma beleza e um equilíbrio perdidos. Isto dava para muitos exemplos e parágrafos de conversa, mas deixo apenas uma pergunta: não teria sido mais inteligente definir todo o mundo como Parque Mundial, e impor necessidade de autorização e regras claras para poder ocupar e estragar? E será que ainda vamos a tempo de mudar o paradigma?
(Diz a artista que está calmamente à espera que as duas leiras que tem numa aldeia minhota passem a ser consideradas terreno de construção...) (olhem para o que eu digo, olhem para o que eu digo, porque se olham para o que faço não vamos a lado nenhum)


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