28 julho 2018

hoje o dia já me começou impecável


Hoje o dia já me começou impecável:

1. Mensagem do Matthias a dizer que já chegou (e que a poucos metros da saída foi tirado para o lado para interrogatório por dois homens especialistas em intimidação psicológica, que acabaram por autorizar a sua entrada no país) (se fazem isto a um tipo com visto e documentos de Harvard, como será com os outros?) (ia dizer: mais um motivo para não querer voltar aos EUA, mas depois ocorreu-me que, por pertencer ao espaço Schengen, não sei o que custará entrar na Europa - e a história trágica do Aquarius, do Lifeline e de todos os que se seguiram e seguirão não me autoriza qualquer sentimento de superioridade europeu em relação aos EUA)

2. Um pedido para entrar na Enciclopédia Ilustrada, com respostas adequadas às perguntas que são feitas a todos os interessados. Geralmente recebo pedidos de pessoas que não se dão ao trabalho ode responder a essas perguntas, ou então dão respostas tão patetas que me obrigam a decidir se recuso liminarmente ou se gasto o meu rico tempo a ir investigar quem será o engraçadinho, e se terá perfil para fazer parte deste grupo. Uma resposta directa e concisa como a que recebi hoje é um caso tão raro que o meu coraçãozinho de gestora da casa se alegra: afinal há vida inteligente e educada do lado de lá desta coisa dos grupos no facebook!

3. Isto: Maria João Pires + Carlos do Carmo + Vasco Graça Moura + António Vitorino d'Almeida



Vou sempre a jogo quando me convidas
E apenas sei que perco sempre a mão
Há no baralho amor e solidão
E atraiçoa-me o tempo às escondidas

As coisas sendo assim são o que são:
Com gaivotas de sombra repetidas
E as cartas já todas distribuídas
Eu apostei a alma e o coração

As ilusões passaram das medidas
E em noites tresloucadas de paixão
Trazes um cheiro a fado e a perdição
E dás cabo de mim e não duvidas

Nessas linhas que tens na tua mão
Há estrelas cadentes esquecidas
E é na sina febril das nossas vidas
Que eu vou morrer da tua ingratidão

2 comentários:

Conde de Oeiras e Mq de Pombal disse...


Desculpa, Helena, mas neste ponto discordo.

Os casos infelizes dos barcos com grupos de Refugiados ilegais não podem ser comparados à situação das pessoas individuais, legais e documentadas. Não é lícito, nem leva a parte alguma, colocar os erros europeus, em termos sobretudo humanitários, éticos e políticos, no mesmo patamar da discricionariedade "legal" norte-americana, em termos de violação dos Direitos Humanos fundamentais. Acho quase obsceno.

As Crianças e os Jovens norte-americanos deveriam era passar todos pela mesma sensibilização, para a defesa intransigente dos Direitos Humanos, que se exige aos Alunos na Alemanha (ou igualmente na França, na Suíça, ou na Escandinávia). Foi aliás em nome disso mesmo (supostamente) que os seus Avós lhes ganharam a última Guerra, não foi?

Helena Araújo disse...

Conde,
vamos discordar, vamos discordar. Sendo ambos graves, parece-me menos grave tratar mal pessoas que vivem em situação de abundância e legalidade, que recusar auxílio aos desgraçados que vêm num barco sem condições, cheios de fome, doenças e desespero. Quanto maior o estado de necessidade, maior a culpa de quem não reconhece nessas pessoas seres humanos com direitos.
Mas em termos de discricionariedade "legal", também na nossa Europa se fazem cenas semelhantes àquela que aconteceu ao Matthias. Uma amiga minha, alemã, já esteve uma vez retida no aeroporto de Bruxelas em condições absolutamente inaceitáveis. Ela trabalha no Parlamento Europeu e vive em Bruxelas. Como dava aulas na Suíça, voava todas as semanas para esse país. De uma das vezes esqueceu-se do passaporte. Pôde entrar na Suíça com a carta de condução e pagando uma multa. Ao regressar à Bélgica, onde vivia, puseram-na numa sala durante várias horas, incomunicável, sem casa de banho, sem água, sem nada. Ela bem mostrava todos os documentos - inclusivamente o de funcionária do Parlamento. Não adiantou. Ficou naquele limbo, até que conseguiu contactar um amigo que foi a casa dela buscar o passaporte e a veio libertar.