29 setembro 2017

de que é que te queixas? vá, calma, não exageres!



Uma vez os meus irmãos andavam a brincar aos Tarzan, e um deles caiu de uma árvore e partiu o braço. Começou a chorar com dores, mas o mais velho (tinha 11 anos nesse verão) disse-lhe "porque é que estás aí a chorar e a queixar-te? o teu braço não pode estar partido - se estivesse partido, de tantas dores que tinhas estavas aí a chorar!"
Contaram-me isto uns dias depois, e riam ambos sobre a parvoíce da frase. Mas a verdade é que o pobre do miúdo de 7 anos andou a tarde toda com o grupo, cheio de dores e tentando reprimir os gemidos e as lágrimas para não dar parte de fraco, porque alguém diagnosticara que não havia motivo para ele sentir o que sentia.

Lembrei-me deste episódio a propósito do modo como mandam calar as mulheres quando elas se queixam. Particularmente interessante quando são mulheres quem desvaloriza o que lhes acontece, quem obriga as outras a fazer de conta que nada disso é importante, quem escolhe proteger e desculpar o comportamento de certos homens, quer bagatelizando o comportamento em si, quer exagerando o carácter ameaçador da reacção: "estas feministas que odeiam homens e querem abrir uma guerra contra eles". 
Não, minhas senhoras, é muito mais simples que isso: é apenas como um miúdo de sete anos que caiu, partiu o braço, está com dores, e precisa de resolver o problema em vez de ser obrigado a fazer boa cara para corresponder àquilo que outros pensam ser a ordem natural das coisas.

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Encontrei no facebook esta fotografia de uma acção que está a decorrer de momento em Nantes, e vinha com um desafio: se cada mulher marcasse da mesma forma os sítios do espaço público português onde tivesse sido assediada/agredida, este país vinha abaixo com o banho de realidade.
Acrescento uma sugestão: cores diferentes conforme o grupo etário das vítimas no momento da agressão.



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