17 abril 2017

quem é responsável pelo ataque químico de Chan Scheichun?

O Lutz Brücklemann deu-se ao trabalho de traduzir e publicar no facebook boa parte de um artigo do SPIEGEL do dia 12 de abril que compila a informação verificável até a data e avalia as alegações contraditórias sobre o ocorrido.

Repasso aqui (com ligeiras alterações), para o trabalho dele chegar a mais pessoas:
 
 [..] Mais de uma semana se passou desde o incidente. O que se sabe sobre os acontecimentos em Chan Scheichun?
 
O momento do incidente  
Às 06:30 horas locais, testemunhas residentes na cidade informaram de ataques aéreos. Às 07h59, o repórter local Mohammed Sallum al-Abd publicou no YouTube um vídeo mostrando o ataque. Vêem-se várias grandes colunas de fumo e uma menor, um pouco ao lado. No título do vídeo Abd escreve que foram usadas "bombas de veneno" no ataque. Com base na posição do sol pode concluir-se que o vídeo deve ter sido gravado logo após o nascer do sol. Na terça-feira o sol nasceu em Chan Scheichun em cerca de 6h15. 
Às 10 horas locais já há também relatos da utilização de gás veneno por agências de notícias, referindo médicos e ajudantes civis no local. Gravações vídeo de vítimas com dificuldade respiratória e convulsões já estão a circular na Internet por essa altura. 
Apesar destes factos a Rússia apresenta uma versão muito diferente: de acordo com esta, a força aérea síria realizou "entre 11h30 e 12h30 um ataque aéreo na margem leste da localidade Chan Scheichun contra um grande depósito de munições e equipamento militar dos terroristas", disse Igor Konaschenkow, porta-voz o Ministério da Defesa russo. "No território deste depósito encontravam-se pavilhões para a produção de minas explosivas que estavam preenchidas com toxinas." 
O veneno teria sido libertado pelo ataque e causado a morte das pessoas em Chan Scheichun - assim a versão russa que o minístro sírio de Negócios Estrangeiros Walid al-Muallem repetiu na última quinta-feira. O primeiro ataque foi feito às 11h30, afirmou o ministro. 
 
O local do crime 
Esta versão russa-síria não pode estar certa e está claramente em oposição às imagens de vídeo de Chan Scheichun. Além disso: a Rússia diz que o ataque à alegada oficina de armas químicas tinha ocorrido na periferia leste de Chan Scheichun. As pessoas que morreram do ataque de gás venenoso, porém viviam na periferia norte. Exatamente ali, há também uma pequena cratera, que terá aparentemente sido deixada pela munição com agentes químicos. 
Kareem Shaheen, jornalista do jornal britânico "Guardian", visitou Chan Scheichun no dia após o ataque. Ele encontrou ao redor da cratera no norte um grande número de casas não danificadas em que pessoas tinham morrido. E descobriu vários silos de cereais e um armazém que tinha sido destruído. Imagens de satélite mostram que estes edifícios já foram destruídos pelo menos desde fevereiro 2017. Moradores locais contaram a Shaheen que os edifícios até já foram destruídas há cerca de meio ano. 
Uma coisa é certa: não há nenhum indício que, na parte de Chan Scheichun de que as vítimas do gás venenoso são oriundas, foi atingido qualquer casa na terça-feira passada. Existe apenas a cratera na estrada. 
Lugar e hora avançados pelo Ministério da Defesa russo, encaixam melhor numa segunda onda de ataques de terça-feira passada. Por volta de meio-dia caças bombardearam o hospital e o centro da proteção civil. O hospital está localizado na extremidade oriental de Chan Scheichun. Voluntários tinham construído lá o hospital parcialmente abaixo do solo para protegê-lo de ataques aéreos. 
Apesar disso, foi fortemente danificado no ataque aéreo do meio-dia da terça-feira. O hospital está localizado a cerca de dois quilômetros em linha reta da área no norte da cidade, donde veio a maioria das vítimas do gás venenoso. O governo dos EUA acusa a Rússia e a Síria de terem tentado destruir com o ataque ao hospital evidência do uso de gás venenoso.
 
O avião 
Rebeldes, testemunhas oculares e o Pentágono relatam conincidentemente que um jato de combate do tipo Sukhoi Su-22 executou o ataque com gás venenoso. Um supervisor de rádio dos rebeldes relatou que aos 06h26 um jato Sukhoi com o identificador Quds 1 levantou vou na base da Força Aérea Schairat em Homs. Pouco depois seguido por um segundo bombardeiro, cujo piloto tinha o identificador Quds 6. Piloto Quds 1 teria então sido quem largou o veneno sobre Chan Scheichun. 
Na hora local 09h00, na terça-feira, a página de mensagens locais de Facebook "Lente em Chan Scheichun e arredores" relatou que a cidade tinha sido atacada com gás venenoso por "dois jatos Sukhoi-22 do regime de Assad." 
O Pentágono divulgou um gráfico que pretende mostrar a rota do avião Su-22 que realizou o ataque. Segundo este, o Jet circulou entre 6h37 e 6h43 sobre Chan Scheichun. 
O piloto sírio com o identificador Quds 1 terá, segundo os rebeldes que escutam o tráfego de rádio da Força Aérea, também sido responsável por um ataque com gás venenoso na cidade Latamne em 30 de março. Naquela época, várias pessoas ficaram feridas, revelando sintomas semelhantes aos de vítimas de Sarin.
 
O piloto 
Na sexta-feira, o Chefe do Estado Maior do exército sírio, Ali Abdullah Ayoub visitou a Base da Força Aérea Shairat - poucas horas depois de ter sido atingido por 59 mísseis de cruzeiro Tomahawk dos EUA. O Ministério da Defesa em Damasco divulgou um vídeo no qual se pode ver, entre outro, como Ayoub felicitou vários soldados. 
Fares Shehabi, membro do parlamento leal a Assad e chefe dos industriais sírios, twittou: "O Chefe do Estado Maior sírio agradece ao piloto Haytham Hasouri por ter destruído o esconderijo de armas do al-Qaeda em Chan Scheichun, Idlib." Entretanto Shehabi apagou o tweet. Já na terça-feira, o meio de comunicação da oposição síria "Oriente News" anunciou que Hasouri seria o piloto com o identificador Quds 1 - portanto o piloto que largou o veneno em Chan Scheichun. Ahmad Rahal, ex-general de brigada da Força Aérea síria, identificou o homem perante o "Times" nas fotos do Ministério da Defesa também como sendo Hasouri. 
Ele seria o chefe da brigada 50 da Força Aérea síria, estacionada em Schairat. Uma confirmação independente de que Hasouri é realmente o responsável pelo ataque, contudo ainda não existe. [...]  
 
A munição 
Ainda não é claro que tipo de munição continha o gás. Assumindo que todas as testemunhas no terreno mentem, a cratera no chão no norte de Chan Scheichun também poderia ter sido causado por um projétil de artilharia. De tais armas dispõe também a milícia terrorista “Frente para a conquista da Síria” e grupos rebeldes na província de Idlib, onde a cidade está localizada. Mas durante uma semana nem mesmo o governo sírio nem o russo proferiam a acusação de que as próprias milícias anti-Assad dispararam o gás venenoso sobre Chan Scheichun por artilharia, a fim de provocar uma intervenção ocidental na Síria. 
Apenas na terça-feira Vladimir Putin trouxe esta teoria indiretamente ao jogo. O presidente russo advertiu contra “provocações” futuras com armas químicas na Síria. Moscovo dispunha de informações segundo as quais ao sul de Damasco "foram espalhadas substâncias para acusar as autoridades sírias que elas o fizeram". Sem dizê-lo explicitamente, Putin assim insinuou que também o ataque contra Chan Scheichun foi encenado pelos rebeldes. 
O chefe do Kremlin comparou o ataque dos EUA contra a base de Schairat com a invasão do Iraque de 2003 liderada pelos EUA. Putin apontou com razão para que os americanos então invadiram o país sob o pretexto falso de que queriam arrancar armas de destruição em massa a Saddam Hussein. Mas, ao contrário de então, todos concordam desta vez que em Chan Scheichun foi utilizada uma arma de destruição em massa. 
 
O veneno
De acordo com o Ministério da Saúde turco, testes de sangue e urina de vítimas que foram estudados em hospitais turcos, provaram sem dúvida que foi usado Sarin. A presença dum produto de decaimento correspondente foi demonstrado, disse o ministro da Saúde Recep Akdag. Também a Casa Branca anunciou que foi detetado Sarin em amostras. 
Representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) estiveram presentes nas autópsias. Ambas as organizações já anunciaram que há fortes indícios de as vítimas terem sido expostas a um agente nervoso. Se este realmente foi Sarin, ou um material semelhante como Tabun, ainda não é claro. 
Sarin normalmente é inodoro. No entanto alguns sobreviventes de Chan Scheichun referiam um cheiro acre. Testemunhos semelhantes já existiam no ataque com gás venenoso em subúrbios de Damasco em 21 de agosto de 2013. Isso pode ser porque foram adicionados ao Sarin outros produtos químicos. Ou o cheiro provêm duma das matérias-primas para a produção de Sarin. Após o ataque com gás Sarin no metro de Tóquio em 1995 ou após o ataque com gás venenoso iraquiano na cidade curda de Halabja, em 1988, em que também foi usado Sarin, sobreviventes igualmente falaram de cheiros caraterísticos. 
Assad comprometeu-se em setembro de 2013 para destruir todas as armas químicas. Sob a supervisão da OPAQ foram, em seguida, desativadas num navio especial no Mediterrâneo todas as armas químicas oficialmente declaradas - um total de cerca de 1.300 toneladas. Contudo: Sempre foram apenas as armas químicas que o regime de Assad declarou. Até então, Damasco tinha negado categoricamente possuir gás venenoso. Existem dúvidas de que a Síria realmente removeu todas as armas químicas para fora do país. Inspetores da OPAQ encontraram várias vezes - inclusive em dezembro 2014 e janeiro de 2015 - vestígios dos gases nervosos Sarin e VX em instalações de pesquisa militar na Síria. O regime não foi capaz de explicar satisfatoriamente a descoberta, dizia-se nos círculos dos investigadores da OPAQ. O especialista em armas químicas John Gilbert estima que em Chan Scheichun foram usados apenas 20 litros de Sarin. 
Até agora não há nenhuma evidência de que os rebeldes sírios possuem ou já possuíam Sarin ou um veneno semelhante.É certo que as forças militares russas alegaram que insurgentes em Aleppo teriam utilizado gás de cloro contra o exército sírio no ano passado. Provas para isso até ao momento não há. A OPAQ ainda não completou a investigação destas alegações. Mas Sarin é muito mais complicado de fabricar e instável do que o gás de cloro; é geralmente misturado pouco antes do uso a partir de duas componentes. Uma das quais é altamente explosiva e teria criado uma enorme bola de fogo se tivesse sido atingido por uma bomba. Nada disto se viu depois do ataque da última terça-feira. [...] 
 
 

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