18 novembro 2016

"not my president"

Sinto uma certa perplexidade perante a aprovação das reacções de violência ao resultado das eleições americanas. Entre os discursos conciliadores de Obama e Clinton e o movimento "not my president", não hesito. Não é possível defender a Democracia recusando as suas regras mais elementares.

Além disso, o problema não é Trump. É algo muito maior e mais difícil de corrigir. São partidos e políticos que não conseguem estabelecer pontes com o eleitorado (a propósito, ver o vídeo do Bernie Sanders, mais abaixo), é um sistema que permite que candidatos com um discurso que arrasa princípios democráticos e constitucionais permaneçam na corrida a um cargo político, são pessoas cada vez mais desintegradas da sua comunidade e da coisa pública, usando o voto como castigo em vez de escolha entre opções para o futuro, alimentando a solidão em redes sociais onde é possível dizer tudo e onde tudo parece ser verdade (e o detalhe curioso da enorme quantidade de mentiras pró-Trump espalhadas na net por um grupo de adolescentes da Macedónia para ganhar dinheiro é apenas isso mesmo: um detalhe curioso).

Lutar contra o facto consumado da eleição de Trump é gastar energias na causa errada.
Pode até ser que o Trump, tal como aconteceu com o Brexit, preste uma grande ajuda à causa da Democracia, na medida em que confronta as pessoas com os efeitos do seu voto ou da sua abstenção.
(No que diz respeito aos seus eleitores, estou especialmente curiosa para ver como é que vão reagir ao ver o empresário pragmático que elegeram usar o poder de presidente para favorecer os seus interesses directos no mundo empresarial - por exemplo, a ajuda para "make the Deutsche Bank great again!")

A nossa causa maior não é a da rejeição do Trump, é a da rejeição do seu discurso incendiário (que ele talvez não repita, como presidente, mas que já se espalhou pelos EUA e pela Europa com a força bárbara dos baixos instintos) e é a defesa da Democracia. Uma Democracia que não soube preparar-se para as novas realidades, e que se vê à mercê de quem a sabe atacar dentro dos limites da legalidade baseada em regras anacrónicas. Pobre Democracia. 

[Entretanto o corrector online insiste que Trump é um erro...]










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