19 setembro 2016

um país de mirones

Na altura do escândalo Clinton/Lewinsky, odiei que me tivessem contado uma anedota sobre um charuto, porque foi assim que fiquei a saber algo sobre o Clinton que não era da minha conta. Hoje em dia, é normal fazer piadas sobre o Clinton e os charutos - tornámo-nos todos desavergonhadamente mirones, e ainda temos o desplante de afirmar que quem está mal é o Clinton. O "livro proibido" que nos deixa espreitar pelo buraco da fechadura para a intimidade de terceiros banaliza a devassa da privacidade. O país vai desatar a fazer piadinhas e alusões torpes, como se ser mirone fosse socialmente aceitável e até louvável.

Quando eu era nova, os mirones escondiam-se nas dunas para gozar o panorama. Patetas! Hoje em dia, em nome da liberdade, já não precisam de se esconder nas dunas, e até podem tirar fotografias e publicar. Quem não quer ver o seu retrato no jornal, não vá à praia...

Queremos viver numa sociedade de mirones? Eu não quero. Ponho-me no lugar dessas pessoas cuja privacidade é devassada, ou no lugar de algum familiar muito próximo, e fico revoltada com este enxovalho absolutamente gratuito. Isto não é uma sociedade civilizada, é uma sociedade que aceita que alguns façam um lucro fácil por conta de espectáculos indecorosos à custa do bom nome de pessoas concretas.

Os políticos, como todas as outras pessoas, têm direito à sua privacidade. Tem de haver motivos fortíssimos de interesse público para ofender esse seu direito de personalidade. Esses motivos têm de ser escrutinados antes de publicada a devassa, e não depois.


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