28 julho 2016

e diria mesmo mais...

Alguém no Independent anda a ler o que eu tenho escrito sobre a Alemanha e os refugiados. Hehehehe.

(Quer dizer, não será exactamente assim, mas não podia deixar escapar a oportunidade de anunciar que não estou sozinha nesta caminhada contra um medo que cria espaço para a cegueira e o ódio. Mais ainda tratando-se de pessoas que escrevem em estrangeiro que, como é sabido, é sempre mais interessante que o produto nacional. Mais ainda tratando-se de um homem, o que impede aquele paternalismo que às vezes se abate sobre as mulheres que se atrevem a sair ao espaço público para dizer o que pensam.)

Falando muito a sério, é isto: a atitude de Angela Merkel a favor dos refugiados pode ter salvo a Alemanha de ataques terroristas realmente grandes. Leiam, leiam, é uma análise muito interessante.

E diria mesmo mais: até pode ser que um dia (até pode ser que neste preciso momento) haja um desses ataques terroristas com dezenas de mortos na Alemanha. Não há segurança absoluta perante a loucura, o ódio, as estratégias de poder. Mas se é para morrer, prefiro morrer de pé e fiel aos valores em que acredito, a morrer em fuga como um rato que salta do navio.

Tanto mais que as propostas de fuga que tenho ouvido por aí são disparatadas e suicidas. O ódio não se combate com o ódio. Tentá-lo, é perder três vezes: perdemos, porque em termos de ódio, "eles" estão mais desesperados que nós (por exemplo, dispostos a dar a vida para destruir inimigos); perdemos porque desistimos dos valores com os quais queríamos construir um futuro para os nossos filhos; e perdemos porque confirmamos os motivos do ódio contra nós.


1 comentário:

mar disse...

A análise é interessante e também acredito que a política de portas abertas de Merkel terá a longo prazo efeitos muito positivos para a integração dos muçulmanos (na verdade, acredito que já tem efeitos positivos). Mas não estou inteiramente convencida de que seja isso que fará a grande diferença entre França e os subúrbios de Bruxelas e a Alemanha no que se refere a protecção contra o terrorismo islâmico: há dias um texto no Frankfurter Allgemeine recordava o papel da colonização europeia no enfraquecimento do Islamismo Otomano (mais moderado e dominante há um século atrás) e destruição dos laços entre as comunidades muçulmanas e as autoridades religiosas e como, após a descolonização, estavam criadas as condições para a expansão do Islamismo Saudita no norte de África e Médio-Oriente para ocupar esse lugar.
No texto referia-se também que, actualmente, muitas mesquitas em França, que servem a grande comunidade magrebina no país, são financiadas pela Arábia Saudita enquanto que as mesquitas na Alemanha, porque aí a comunidade muçulmana é essencialmente de origem turca, são ainda dominadas pelo tal Islamismo de feição otomana e financiadas pela Turquia. Mais do que a política de Angela Merkel, talvez seja isso que esteja a salvar a Alemanha de ataques terroristas realmente grandes.

(Ou, pelo menos, foi isso que percebi do texto. Como o meu alemão é ainda um pouco rudimentar, deixo o link para o texto original: http://www.faz.net/aktuell/feuilleton/debatten/islam-debatte-wie-der-salafismus-in-unsere-welt-kam-14342427.html)