01 maio 2014

domingo de ramos em Etchmiadzin




Etchmiadzin é o centro da Igreja Apostólica Arménia. O Vaticano dos arménios, digamos assim. Um "Vaticano" mais antigo e mais discreto: a igreja vem dos fins do século V, substituindo a que São Gregório mandou fazer em 301, e a decoração - exuberante, se comparada com outras igrejas arménias - é, ainda assim, de uma notável sobriedade.

Já tínhamos estado lá no ano passado, na celebração do dia 24 de Abril em memória das vítimas do genocídio. Desta vez, Domingo de Ramos, a praça em frente à Sé encheu-se de uma alegria tão contagiante que me comoveu. Disfarcei como pude, mas foi difícil evitar a lagrimita quando uma senhora me deu um ramo benzido, como se tal gesto de inclusão fosse a coisa mais natural do mundo. Esta atitude de acolhimento dos arménios não cessa de me surpreender.

A igreja está em obras. Aliás, todo o país se prepara para 2015, ano do centenário do genocídio.




Gor, o nosso guia, mostrou-nos uma cara num dos lados da igreja, e contou que um invasor persa, depois de destruir imensas igrejas, queria desmontar esta para a levar para os arménios que viviam na Pérsia. As pessoas imploraram que ele poupasse a Santa Sé de Etchmiadzin, e ele anuiu. Como sinal de agradecimento, esculpiram o seu rosto numa pedra da fachada.








O Catholicos, Karekin II, presidiu à bênção dos ramos, e no fim abençoou as crianças.
Durante uns dias tivemos esperança que ele nos concedesse uma entrevista, e andei a pensar frases começadas por "Your Holiness". Perguntava-me se este "Papa", que parece tão próximo das pessoas, faria questão de ser tratado com a maior distância que a gramática permite, ou se seria acessível como imagino o nosso Papa Francisco.
Mas afinal não houve entrevista, de modo que fiquei com mais esta dúvida existencial por resolver.








Ao regressarmos ao carro, uma surpresa: as crianças tinham feito desenhos a giz na avenida da Sé. 

O Evangelho foi traduzido para arménio na primeira metade do séc. V. Para o efeito, o monge Mesrop Mashtots inventou uma nova escrita, com 36 letras ("36 soldados que protegeram a identidade arménia durante milénio e meio", li algures).

Parece que se aplicaram especialmente na tradução da frase "deixai vir a mim as criancinhas".

     



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