10 maio 2014

a importância dos nomes



Arzach ou Nagorno-Karabakh?
Arzach era a décima província do Reino Arménio, de 189 a.C. a 387 d.C.
Por alturas da passagem do primeiro milénio era o Reino de Arzach, um dos poucos territórios arménios que conseguiram manter alguma autonomia após as invasões dos séculos XI a XIV.
No decorrer das ocupações e partilhas de territórios entre as grandes potências vizinhas (Pérsia, Rússia, Império Otomano) a região ganhou o nome dado pelos ocupantes, Nagorno-Karabakh, e acabou oferecida por Estaline ao Azerbaijão, juntamente com outros dois territórios dos arménios.

Arzach ou Nagorno-Karabakh? Que nome, que lado escolho? O da inviolabilidade das fronteiras, independentemente do modo como foram formadas, ou o do direito à autodeterminação dos povos? Olho para este povo que não desiste da sua identidade, apesar de tantos séculos na condição de minoria perseguida e massacrada, e escolho Arzach.

E que nome escolho para as cidades e aldeias, os rios e as montanhas no leste da Turquia? Os antigos nomes geográficos de origem arménia, curda e assíria foram substituídos por nomes turcos, impostos por comissões expressamente criadas para o efeito. O mesmo aconteceu com os nomes de raízes gregas, búlgaras e árabes.

Os nomes científicos não foram poupados a este ímpeto nacionalista: a Vulpes vulpes kurdistanica é agora simplesmente Vulpes vulpes. A Ovis armeniana é agora Ovis orientalis anatolicus, e a Capreolus capreolus armenius é Capreolus capreolus capreolus. Porque "a raposa é a nossa raposa, e a ovelha é a nossa ovelha", explicava em 2007 Osman Pepe, o ministro do Ambiente, ao jornal Sabah. É verdade que essa mudança só está em vigor na Turquia (o que deve criar complicações interessantes num mundo científico sem fronteiras) mas não deixa de ser um fenómeno curioso.

E nós? Escolher usar um nome ou o outro é também a escolha entre pactuar ou não com este processo de branqueamento linguístico que - a par da destruição dos vestígios arquitectónicos e artísticos - culmina o processo da limpeza étnica.


Sem comentários: