19 setembro 2013

diversidade



Este é um daqueles vídeos que me faz sentir pena dos amigos que não entendem alemão. Olivia Jones faz uma reportagem de um encontro do NPD, o partido de extrema-direita alemão - humor do melhor. Por exemplo, a partir de 0:44, quando um responsável diz que é preciso mudar alguma coisa na política alemã, e ela "isso é um pouco vago - pode detalhar?", e ele "para que os interesses alemães passem a ser representados", e ela "quais são os interesses alemães?", e ele "eeeeeh..." Ou a 2:40, quando ela comenta "conheço esse penteado de algum sítio". E um pouco mais à frente: "aqui não há mulheres? não me digam que vocês são uma associação gay? como é que se reproduzem?"
Eles não sabem o que responder. Estão cercados por câmaras de televisão, e vivem num Estado de Direito onde se discute abertamente se o NPD deve ser proibido, por não respeitar os valores democráticos mais básicos. Ficam calados, mas bem se imagina o que fariam à entrevistadora, se tivessem poder para isso. E aquelas caras? Vi-as, tal e qual, na exposição fotográfica permanente da cúpula do Parlamento: eram os deputados do partido nacional-socialista, democraticamente eleitos no início dos anos 30.

Este vídeo lembra-me muito os anos 20 em Berlim: de um lado, uma revigorante combinação de inteligência, loucura e liberdade; do outro lado, pessoas que se consideram decentes e defensoras dos mais nobres ideais, mas nem sequer são capazes de um discurso articulado.
Há oitenta anos, esta cena teria personagens semelhantes, mas um desfecho completamente diferente. Hoje, Olivia Jones consegue mover-se com alguma segurança naquele meio - mas é uma segurança precária: na Grécia já houve uma vítima mortal, nos Países Baixos há um Geert Wilders que sabe gerir na perfeição os limites legais da sua retórica nacionalista e xenófoba. Proteger os valores da nossa Democracia é um acto quotidiano de vigilância e resistência.

"Diversidade destruída" é o tema de uma exposição que decorre este ano em 400 lugares de Berlim.
Oitenta anos depois da tomada do poder por Hitler, e setenta e cinco anos depois da Reichskristallnacht, um pouco por toda a cidade assinalam-se os cenários onde acontecia algo que os nazis decidiram perseguir e eliminar por ser diferente, "não-alemão".
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Em contrapartida, em 2012 comemoraram-se os 775 anos de Berlim sob o lema "cidade da diversidade". Desenharam um mapa urbano na praça em frente à ilha dos museus, e assinalaram com globos coloridos o que tornava cada rua especial. Lugares históricos, mas também espaços que as pessoas transformam em lugares de criatividade, alegria e reinvenção da cidade. O caderno de apoio à exposição chamava-se "Dos huguenotes, turcos, russos e outros berlinenses. 775 anos de diversidade vivida."



A diversidade como imagem de marca e símbolo da riqueza desta cidade. Que está completamente falida, mas arranja sempre dinheiro para se confrontar com a História e orientar as agulhas para o futuro.

6 comentários:

CCF disse...

Grande Olívia Jones! O que pode uma mulher inteligente...
~CC~

D.S. disse...

Tenho uma curiosidade enorme sobre Berlim. Estes posts só me espicaçam mais a vontade de visitar a cidade...

Helena Araújo disse...

D.S.
vou traduzir esse comentário e enviar aos serviços de turismo da cidade. Pode ser que me dêem uma avença... ;-)

D.S. disse...

Hehe, mas se calhar só funciona se eu concretizar a vontade!

snowgaze disse...

Tinha isto guardado para quando tivesse tempo e silêncio para ver o vídeo - foi agora. Muito bom, humor muito inteligente.

Helena Araújo disse...

É, sim! :)