16 setembro 2013

as tragédias nossas de cada manhã nos dai hoje

A porta do prédio abriu-se para deixar passar um miúdo que correu para as bicicletas paradas no passeio e gritou na sua voz rouca de três anos:
- Os nossos cavalos não sobreviveram!
Repetiu, muito convicto da tragédia:
- Os nossos cavalos, os nossos cavalos! Não sobreviveram.

Na porta apareceu então a irmã, com botas de equitação. Vinha enervada por causa de uma mochila mais pesada que ela (porque será que as crianças de sete anos têm de levar metade da casa para a escola?), e choramingou para a mãe "o meu saco puxa-me para trás!"
A mãe vinha vestida de senhora, e ajudava o mais pequenito a sair pelo seu pé.

Daí a nada vi-os de novo: a mochila no porta-bagagens da bicicleta da miúda, o bebé na cadeirinha atrás da mãe, que continuava com a sua cara de Joana d'Arc às segundas de manhã, e o rapazinho, que aparentemente vendera os cavalos mortos a uma fábrica de lasanhas, e comprara uma Vespa: pedalava alegremente e fazia "vrummmm vrummmmm".

Depois veio uma lufada de vento, e os quatro desapareceram numa nuvem de folhas douradas no larguíssimo passeio do Ku'damm.

Adoro Berlim.

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