30 agosto 2012

o passeio dos alegres (5)



No domingo deixei os miúdos a dormir e levei o Matthias ao hospital, porque ele achava que não estava a melhorar, e que tinha alguma coisa nas vértebras. Começou bem: a mocinha da recepção tinha andado na mesma escola que ele, e ficaram os dois em alegre converseta "ai, essa professora é difícil!" e "ooooh, tens esse professor? ele é o máximo! dá-lhe cumprimentos meus". Depois piorou: era domingo, só tinham um médico para o serviço todo (parece que a troika também passou por aqui). Os casos mais urgentes passavam à nossa frente. No conjunto (incluindo a radiografia e a segunda consulta com o médico), quatro horas perdidas no hospital. Completamente perdidas, porque os ossos do Matthias afinal não têm problema nenhum...
(e acrescento rapidamente um ;-) para não haver dúvidas de que é mesmo só uma piadinha)

Viemos a toda a velocidade para casa, fiz rapidamente uns pelmeni para a rapaziada, e saímos para as muitas aventuras previstas para esse domingo. Tarde e a más horas, mas esta cidade tem aventuras e surpresas para qualquer hora do dia.

Domingo de Verão é dia de karaoke no Mauerpark. Tinham-nos avisado que fora interrompido meia hora depois de começar, por causa de uma chuva torrencial que entretanto acontecera, mas nós não desistimos tão facilmente da esperança, e pusemo-nos a caminho. Antes disso, passámos pelo memorial do muro de Berlim na Bernauer Strasse.









No centro de documentação vimos imagens da construção do muro: a impotência dos berlinenses que vêem os soldados a espalhar o arame farpado e não podem fazer nada para os impedir; o sofrimento horroroso das famílias separadas; os jornalistas ocidentais, impedidos de fotografar a zona do muro por soldados que os encandeiam com espelhos, lhes atiram jactos de água ou até bombas lacrimogéneas (e o melhor momento desse filme, para mim, quando os jornalistas atiram as bombas de volta para o outro lado do muro); as pessoas que num último momento conseguem atravessar as barreiras de arame farpado. Mostrei-lhes um cartaz de propaganda de RDA, que criminalizava jovens apanhados em flagrante de ouvir rock`n`roll numa festa, e os fazia ao serviço do "gordo, ávido e corrupto" chanceler da Alemanha Federal. "Mas o povo de operários e agricultores saberá defender-se destes perigos, não vacilará!" - ufff, nada como ter um governo forte que sabe proteger os interesses do povo.

Depois seguimos para o Mauerpark, a ver se ainda havia karaoke. Sim, havia, e estava formidável. 





Depois do karaoke demos uma voltinha pela feira da ladra (ou dos ladrões), que já estava a ser desmontada, passámos pelo Biergarten "Andorinha" ao fundo do parque, ficámos impressionados pela capacidade de organização da concorrência (que usa carrinhos de supermercado para recolher as garrafas abandonadas),


e seguimos para a Oderbergerstraße com um amigo que conhece bem aquela parte da cidade (e as outras, aliás). Queríamos ir apenas experimentar as famosas waffles da Kauf dich glücklich, mas na entrada daquela rua deve haver um espelho de Alice, porque de repente demos connosco numa realidade paralela de Berlim. 




A loja Kauf dich glücklich é uma extraordinária mistura de gelados, waffles, decoração feita com velharias e loja de niquices engraçadas. (Desgracei-me outra vez, claro, e de várias maneiras.)



Continuámos caminho em direcção ao centro - queríamos ver se ainda havia tango junto ao Bode Museum. Parámos num bar ao fundo do parque Monbijou, mesmo em frente ao rio, que tinha semáforos de todo o mundo. Uma festa: tentar adivinhar o país, comparar, rir.











Não havia tango, mas do outro lado do rio a Lietzeorchester estava a tocar a nona sinfonia de Schubert - os concertos de domingo gratuitos no Bode Museum. De modo que parámos pela ponte para ouvir um bocadinho. Estava frio, decidimos ir para casa. Jantámos tardíssimo, mas aposto que isto é um detalhe que não interessa a ninguém. 



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