29 maio 2012

Roma! (6)

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No Castel Sant' Angelo havia uma exposição sobre Amor e Psyché. E nos aposentos dos papas havia mais episódios de oftalmologia. A sorte deles é que naqueles séculos não tinham ainda inventado o Vatileaks, e entretanto os crimes já prescreveram.

Tivemos a pior refeição da semana num restaurante para turistas, junto ao rio. Tudo tão óbvio, o aspecto do restaurante, o upselling desavergonhado ("também querem bruschetta, não querem? uma saladinha de tomate com mozzarella também ia bem, não ia?"), o mau aspecto dos pratos servidos aos outros. Serviu-nos de lição.

Depois do almoço o Joachim e eu fomos para a zona da Praça de Espanha e a Praça Barberini, para uma sessão de power shopping há muito agendada. A Camicissima, para a qual tínhamos o radar apontado, revelou-se uma grande desilusão. Talvez seja verdade que não devemos voltar aos lugares onde já fomos felizes... Mas a Gattegna, a velha loja de camisas no 104 da Via del Tritone, não nos desapontou. É uma loja estranha: tem as caixas de camisas em pilhas de dois metros postas lado a lado, não parece ter levado pintura nem arranjo desde a fundação da casa (provavelmente antes da segunda guerra mundial), não deixa provar a roupa, mas vende camisas e gravatas com uma extraordinária relação qualidade/preço. Afinal pode-se ser feliz duas vezes no mesmo lugar. Emboramente... comprar em Roma camisas e gravatas lindas e baratas não é propriamente a melhor definição de felicidade.

Carregados de sacos enormes, fomos ter com o Robert e a Linda a um bar terraço sobre as escadas de Espanha, e passámos uma hora divertidíssima a apreciar o movimento. A linguagem corporal da senhora que se queixava a um polícia, o jogo do gato e do rato do polícia e dos vendedores ambulantes indianos, os casais que subiam as escadas com as compras, ou as desciam já preparados para a noite (elas muito chiques, de saltos altos - saltos altos nas ruas de Roma, estas turistas são loucas! - e eles às três pancadas), os romanos sempre impecáveis.

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O Robert falava de Keats, citava-lhe poemas de memória (Heard melodies are sweet, but those unheard / Are sweeter), louvava-lhe o lirismo e a beleza da forma, o optimismo de alguém que morreu aos vinte e cinco anos, na casa que víamos do topo daquelas escadas.  

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Antes de partirmos em busca de um bom restaurante, quis mostrar-lhes as carantonhas da via Gregoriana,

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e descemos essa rua, sem saber como escolher um bom restaurante para jantar. Em desespero de causa, peguei na lista de restaurantes que me tinham recomendado, com as respectivas moradas, e entrei num bar para saber qual era o mais próximo. Mandou-nos para a Fontana di Trevi, pelo que nós viramos imediatamente na direcção contrária à que ele nos indicou, e fomos ter direitos à maior descoberta da semana, o restaurante Sofia, que abriu há três meses, tem uma cozinha excelente e ainda está a praticar preços promocionais. Tudo perfeito, desde o ponto da carne até aos brincos da proprietária. E é para não falar do seu sorriso, e do sorriso do seu marido, e da sobremesa de mil-folhas. E da cadelinha deles, que passeava entre as mesas, a Sofia. Sofia!
(podem ir à confiança, e quem não gostar, pronto, faremos um esforço por ser tolerantes e deixar as coisas como estão)

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No caminho de regresso a casa ainda parámos para provar um gelado da San Crispino - apesar da fama que tem, foram os gelados mais exageradamente doces da semana.

Eu ia fazendo fotos pelas ruas,

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o Joachim sugeriu-me que trabalhasse com o white balance, para jogar melhor com os efeitos e as nuances da luz, e exemplificou:

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Tinha razão, claro. Mas eu, além de gostar de disfarçar a ignorância, gosto de banhar a minha Roma num exagero de dourado.  

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