27 abril 2012

já ando há dois ou três dias sem falar na Filarmonia...

...e o pessoal já se começou a queixar. E a Filarmonia, Helena? - perguntam eles. Agora é só Russendisko?! - riem-se eles.

Eu não tenho é tempo para contar!
Voltei aos bancos do coro da Filarmonia, para um concerto demasiado curto. Nem sei como fizeram, mas mal nos sentámos já estávamos a aplaudir freneticamente. O malandro do Dudamel (ai... ai...) voltou ao palco, agradeceu muito - mas encore, vai no Batalha.
(Ultimamente dou comigo a usar muito expressões do Porto, "trenguice", "vai no Batalha" - deve ser uma forma de o meu inconsciente homenagear as gentes da minha cidade, especialmente as da Fontinha)
Pois, o Dudamel. E mais nada. Mais nada.
Houve momentos em que nem a música ouvia (e nem mesmo as tosses irritantes!), nem via a sala cheia de espectadores por trás do maestro. Não: era só ele, e aqueles olhos tão expressivos, aquela enorme cumplicidade com os músicos e com a música. E depois caía em mim, ó Heleninha, pensas que isto é um filme mudo? Concentra-te também na orquestra, vá, esforça-te um bocadinho.
O programa foi muito bom: Ravel - Ma Mère l'Oye; Erich Wolfgang Korngold, que eu nem sabia que existia e se saiu com um concerto para violino de que gostei muito (anoto o nome do violinista: Leonidas Kavakos - excelente, e com muito boa pinta); e depois do intervalo aquela peça que - se não estou em erro - o Nietzsche compôs para o filme 2001 Odisseia no Espaço. Os bancos do coro por trás da orquestra são o lugar ideal para ouvir o início do "Assim falou Zaratrusta" - a percussão ali mesmo à nossa frente, o grandioso órgão por cima de nós, nem precisamos de foguetão para chegar às estrelas.




 


Isso foi ontem. Hoje foi a Christina Pluhar com l'Arpeggiata: Via Crucis. Um concerto memorável, muito bem articulado, sem ser quebrado por aplausos, e enriquecido por uma bailarina que parecia da escola da Pina Bausch (hei-de investigar).

Os quatro italianos do Barbara Furtuna deixaram-me fascinada: com as suas figuras que mais pareciam saídas de um livro do Astérix, combinavam as vozes na perfeição - e várias vezes as suas harmonias me chegaram a lembrar o famoso mistério das vozes búlgaras (hei-de investigar).



O solista Vincenzo Capezzuto tinha uma voz extraordinária, semelhante a um contralto (hei-de investigar).

(Com tantos "hei-de investigar", já pareço um agente da PSP...)

Mas quem mais nos interessava era o Doron Sherwin - eu estava convencida que era a ele que um amigo nosso se referia quando dizia que um dos maiores orgulhos da sua vida foi ter-lhe passado um english horn para as mãos.

No final do concerto, o público estava delirante. Dois encores: o "Maria" do filme ali em cima, e a paródia muito bem encenada da Ciaccona di Paradiso e dell'Inferno:



Tinham avisado que podíamos levar os CDs para autografar. Comprámos um que não tínhamos, Los Pájaros Perdidos. Não temos a certeza de gostar, mas nem era essa a ideia - queríamos apanhar o autógrafo ao Doron Sherwin e oferecê-lo ao nosso amigo Robert.
Com a sorte que tenho, era a primeira da fila. Os músicos chegaram, e eu engasguei: todos eles a olhar para mim, à espera que eu dissesse uma coisa muito inteligente, e eu aimêdês aimêdês, dei-lhes os parabéns pelo concerto, agradeci, e depois desatei a dizer baboseiras. Por exemplo, ao Vincenzo Capezzuto queria dizer que gostei imenso da sua voz, mas só me saiu um "you are beautiful!"
Pelo que ele, logo a seguir aos beijinhos da Córsega  (Barbara Furtuna) e da florzinha da soprano, me pespegou com um "With Love, Vincenzo Capezzuto" e um sorriso enorme (e talvez um pouco trocista). Chegou a vez da Christina Pluhar, a quem eu perguntei onde estava o músico do english horn. Ela ensinou-me: "em alemão, chama-se Zink", e corrigiu a minha pronúncia. Depois disse-me para ir atrás do palco ver se o encontrava.


Lá fomos nós para trás do palco, onde estavam outros músicos e a bailarina. Só faltava o que nós queríamos, que apareceu finalmente ao fundo de um corredor comprido, tinha realmente sido aluno do nosso amigo, e de bom grado escreveu no nosso CD "With Gratitude" e acrescentou o seu endereço de e-mail. Infelizmente esborratou-me o "With Love, Vincenzo Capezzuto", não gostei nada.
Agora estou completamente na dúvida se fico com o "With Love, Vincenzo Capezzuto" para mim, ou se dou o "With Gratitude" com e-mail ao Robert.

Mas pelo menos já sei o que escrever se no lançamento da Viagem a Tralalá me pedirem um autógrafo. Vai ser isto: "With Love, Vincenzo Capezzuto".
Se me faz feliz a mim, também deve ser muito bom para os outros.  

Para terminar, aqui vai um vídeo do - Como é que adivinharam? Esse mesmo.


4 comentários:

Interessada disse...

oh,se eu podesse retribuir...
Mil agradecimentos a si Helena. Grata pelas alegrias que me dá.
E não é exagero, não.

Helena Araújo disse...

:-)

Interessada, saia já um "With Love, Vincenzo Capezzuto" para si!

E obrigada por me dizer isso. É que eu vou escrevendo como me ocorre, mas nunca sei se o que escrevo tem algum préstimo para os outros.

Interessada disse...

Mais uma vez o meu agradecimento.
Peço desculpa pelo erro ortográfico que deixei acima, e que aqui corrijo.
Onde está "se eu podesse" deveria estar "se eu pudesse"

Helena Araújo disse...

Interessada,
as caixas de comentários são perigosas: uma pessoa escreve à pressa, manda, e pronto: lá fica o erro à vista de todos, cem pucibilidade de currijir...

(gosto daqueles três pontinhos juntos, no currijir, acho que vou fazer a minha própria reforma ortográfica segundo critérios estéticos.
.estétekes.
;-)